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HPV: inimigo da saúde feminina

23/06/2003 - O LIBERAL (PA)

Pelo menos uma em cada quatro mulheres está infectada pelo HPV.

Ele é bem mais comum do que se imagina: pelo menos uma em cada quatro mulheres está infectada pelo HPV, e o pior, muitas vezes não sabem. Além de atrapalhar a vida sexual, ele pode levar ao câncer de colo de útero. Mas apesar de assustador, é preciso esclarecer que há tratamentos e exames preventivos que garantem a convivência pacífica com o vírus.

Pensar o HPV em números é simples. Basta lembrar todas as mulheres que você conhece e imaginar que aproximadamente 25% delas têm o papilomavírus humano. Esse raciocínio ajuda a entender o poder de penetração do vírus na população feminina. No mundo inteiro 7 mil pessoas, entre homens e mulheres, são infectadas pelo HPV todos os dias, cerca de 5 pessoas por minuto. Vale lembrar ainda que a relação HPV X Câncer de colo de útero é bem íntima: ele é responsável por 95% dos casos de câncer de colo de útero, o segundo tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil, perdendo apenas para o campeão, o câncer de mama. Mas no Pará, os números são outros: segundo dados da Secretaria Executiva de Estado de Saúde Pública (Sespa) em 2002, foram notificados 490 casos de câncer de colo de útero, sendo que 130 óbitos, contra 220 de câncer de mama, sendo que 90 óbitos, na mesma época. Vale ressaltar, porém, que o HPV não é o único responsável pelo câncer de útero, outros fatores como tabagismo, aids e a promiscuidade também podem aumentar as chances de contrair a doença.

Mesmo quando não alcança sua face mais danosa, o câncer de útero, o HPV pode trazer grandes problemas à saúde e vida sexual da mulher. Entre outras coisas, pode tornar o sexo doloroso e fazer com que surjam verrugas na vulva, dentro e ao redor da vagina, no ânus e na virilha.

As estatísticas são assustadoras, os sintomas incomodam muito e o tratamento é longo e delicado. Boa parte dos problemas provocados pelo vírus, no entanto, poderia ser evitada com cuidados bem simples. Um exame de papanicolau, conhecido também como preventivo, detecta alterações nas células do colo do útero e da vagina, chamando a atenção para uma possível contaminação pelo vírus. "O câncer não nasce câncer ele tem um tempo de evolução de cerca de 10 anos. Os primeiros sinais podem ser detectados pelo preventivo, que é eficiente e deve ser repetido uma vez por ano", afirma a ginecologista e presidente da Sociedade Paraense de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, Elisabeth Mendes - que nos dias 13 e 14 vai estar coordenando a VIII Jornda Paraense de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, que entre outras coisas vai tratar da colposcopia e apresentar um debate informal sobre "Atenção Especial a Genitália Feminina", voltado para a classe médica.

Se o Papanicolaou der sinal de que algo não está bem, parte-se para a colposcopia, técnica que amplia em até 40 vezes a área sob suspeita de lesão. Há ainda outros procedimentos, como a biópsia para análise de lesões já existentes e a captura híbrida, que identifica o tipo do vírus e a quantidade dele em amostras de tecido.

Tratamentos - Embora um organismo com as defesas em dia seja eventualmente capaz de eliminar sozinho o HPV, a medicina ainda não encontrou uma forma de curá-lo. Lesões, verrugas e outras alterações causadas pelo vírus são tratadas com aplicação de ácidos ou pomadas quimioterápicas, que destroem as feridas e impedem que as células doentes se multipliquem. Também é possível submeter-se à cauterização elétrica e a laser ou à remoção do tecido afetado pela cirurgia de alta freqüência ­ pequeno aro elétrico que vaporiza o local ­ ou pelo jato de nitrogênio, a crioterapia. Dependendo da gravidade, combina-se mais de um tratamento.

O vírus - O contágio com HPV acontece geralmente durante a relação sexual. Dessa forma, é importante ressaltar que o parceiro também pode estar infectado. Em alguns casos, o vírus pode provocar o aparecimento de verrugas no pênis, no ânus e nos testículos, mas a maioria dos homens não apresenta sintomas. Por isso, é importante deixar claros alguns aspectos do HPV, para que ele não abale também o relacionamento. O primeiro deles é que: apesar da forma mais comum de contágio ser através da relação sexual, ela também pode ser dar através de roupas compatilhadas, instrumentos e outras partes do corpo, como mãos e boca. Isto é, nem sempre o contágio ocorre por penetração. E ainda: na mulher, o vírus se mantém de forma mais persistente. O homem se infecta e transmite, mas muitas vezes elimina o HPV sem maiores problemas. "É comum a mulher apresentar o vírus ­ chega a mais de 50% dos casos ­ e o parceiro não", afirma o infectologista Carlos Nascimento.

Um exemplo disso, foi o que aconteceu com a dona-de-casa, Cristina*, de 36 anos. Há dois anos, quando foi fazer o exame preventivo, descobriu que havia a presença do vírus. Depois de saber do problema, o marido procurou um urologista e soube que não tinha o HPV. "Não tenho idéia de como isso aconteceu, já que estava com o mesmo parceiro há mais de 10 anos", diz. O infectologista ressalta no entanto que o fato de o exame dele ter dado negativo não exclui a possibilidade de ele ter infectado a mulher.

Mas não houve tempo para explicações, o marido de Cristina foi embora alegando ter sido traído.