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ONU PEDE INVESTIMENTOS CONTRA A AIDS

02/12/2005 - Folha de São Paulo

Doença matou mais de 3 milhões neste ano

No Dia Mundial de Combate à Aids, a ONU fez ontem um apelo por uma "resposta extraordinária" ao avanço da doença.
De acordo com as Nações Unidas, enquanto a taxa de contaminação entre adultos está caindo em alguns países como conseqüência do uso de preservativos e de alterações no comportamento sexual das pessoas, a epidemia continua a crescer.
No último dia 21, a Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids) divulgou seu relatório anual para 2005, no qual afirma que cerca de 40 milhões de pessoas vivem atualmente com o HIV -60% das quais estão na região da África subsaariana. O relatório informou ainda que menos de 20% das pessoas que correm risco de contágio no mundo têm acesso aos serviços básicos de prevenção à Aids.
Só neste ano, a Aids já matou mais de 3 milhões de pessoas no mundo todo.
"As lições de quase 25 anos de epidemia de Aids são claras", declarou ontem Peter Piot, diretor-executivo da Unaids. "Investimentos feitos na prevenção do HIV quebram o ciclo de novas contaminações. Fazendo esses investimentos, todo e qualquer país pode reverter a disseminação da Aids", completou.
Ontem o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou que seu país está ajudando 400 mil pessoas em países africanos, como Uganda e Quênia, a receber tratamento. Em 2003, Bush prometeu dar US$ 15 bilhões em cinco anos para financiar o combate à Aids. Mas ele recebe críticas, inclusive de membros do alto escalão da ONU, por enfatizar programas de abstinência sexual como forma de prevenir o contágio pelo HIV, o que eles consideram uma tática fadada ao fracasso.
Já na França, o uso de preservativos foi incentivado pelo presidente Jacques Chirac. Segundo o chefe de Estado francês, as escolas deveriam ter máquinas de venda de preservativos, que deveriam custar US$ 0,23 cada um.
O Reino Unido doou ontem cerca de US$ 48 milhões para fundos de combate mundial à Aids.
Na África do Sul, país em que vive o maior número absoluto de pessoas com o HIV -entre 5,3 milhões e 6 milhões, ou cerca de 11% da população do país-, o vice-presidente da República, Phumzile Mlambo-Ngcuka, pediu a seus concidadãos que partilhem de sua preocupação com a Aids. "O quer que façamos de bom hoje, vamos repeti-lo amanhã, na semana que vem e nos próximos anos", pediu.
O nível de ignorância da população sul-africana acerca do risco de contrair Aids mostrou-se alarmante. De acordo com investigação do Conselho Sul-Africano de Pesquisa em Ciências Humanas, 66% dos entrevistados afirmaram não achar que correm risco de contrair o HIV, incluindo mais da metade deles cujo teste de HIV se revelou depois positivo.
"Isso significa que existem mais de 2 milhões de pessoas caminhando pelas ruas do país que são HIV positivos e acham que provavelmente não o são", disse Olive Shisana, pesquisadora-chefe do conselho.
O governo sul-africano tem sido acusado de negligência em sua resposta à epidemia de Aids. Medicamentos anti-retrovirais que prolongam a vida dos pacientes com a doença só se tornaram acessíveis por meio do sistema público de saúde do país no ano passado.