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Pacientes possuem variedades do vírus

16/07/2003 - Fonte -THE NEW YORK TIMES

resistentes a medicamentos

O maior estudo realizado até o momento sobre a resistência a drogas de combate à Aids, que deve ser divulgado nesta quarta-feira (16/07) em uma conferência internacional sobre a doença em Paris, revela que cerca de 10% de todos os pacientes recém-infectados da Europa possuem variedades do vírus que são resistentes aos medicamentos.

O pesquisador que chefiou o estudo afirmou que o nível de resistência de algumas drogas anti-Aids é "surpreendentemente alto". Outros cientistas presentes na conferência concordaram que a descoberta têm implicações profundas para a saúde pública em âmbito mundial e faz com que a pesquisa para a identificação de novas classes de drogas de combate à Aids seja uma tarefa ainda mais urgente.

Eles dizem que os dados sugerem que vários pacientes que têm Aids e que passam por tratamento voltam a se engajar em sexo de alto risco ou no compartilhamento de seringas e agulhas para o uso de drogas. Os dados sugerem ainda que em breve deverá ser adotada uma "ordem de batalha" para a prescrição de medicamentos contra a Aids, como acontece com os remédios contra a tuberculose, em lugar da atual política de "remédios de graça para todos".

Por exemplo, diz um pesquisador, uma droga como a nevirapina, que é capaz de prevenir a transmissão do vírus da mãe para o feto com apenas uma dose, deve ter seu uso restrito para apenas esta finalidade, de forma que a resistência do vírus não aumente, o que ocorreria caso milhares de pacientes passassem a usar o remédio por toda a vida. Além disso, autoridades de saúde pública poderiam dizer aos médicos quais combinações de medicamentos deveriam ser utilizadas a princípio, e como segunda e terceira opções, caso surgisse resistência ao tratamento.

Testes de menor magnitude para avaliar a resistência foram realizados em São Francisco, em um grupo de várias outras cidades norte-americanas, e na Suíça. Embora algumas delas tenham apresentado os maiores índices de resistência - dentre 225 pacientes em São Francisco, 27% eram resistentes aos medicamentos -, o novo estudo é o primeiro a conferir uma avaliação confiável do fenômeno junto a diversos setores de uma grande amostra populacional, segundo Charles Boucher, professor de virologia da Universidade de Utrecht, que liderou o projeto.

"Não estamos nos referindo ao alto risco no centro da cidade de São Francisco", disse. "É algo que está ocorrendo em toda a Europa."

Alguns médicos dizem que o estudo sugere que todos os novos pacientes de Aids deveriam ser examinados para determinar o grau de resistência a medicamentos das variedades do vírus pelas quais estão infectados.

Esses exames podem custar de US$ 200 a US$ 800 cada um, e demoram de uma semana a um mês para gerarem um resultado, fatores que poderiam aumentar enormemente o custo dos planos de fornecimento de medicamentos baratos contra a Aids aos países pobres. Por exemplo, o governo Bush prometeu investir US$ 15 bilhões para levar tais medicamentos à África e ao Caribe.

Mas os especialistas enfatizam que a possibilidade de criação de variedades do vírus que causam a Aids resistentes a medicamentos não se constitui em um motivo para negar tais drogas aos países pobres.

Robert M. Grant, professor de medicina da Universidade da Califórnia em São Francisco e que liderou o estudo na cidade, diz que proceder de tal forma não seria ético. Boucher diz que a medida seria ainda pouco inteligente sob o ponto de vista médico, já que os medicamentos reduzem o nível do vírus no sangue, fazendo com que a transmissão seja menos provável.

Outros especialistas dizem que as descobertas demonstraram a necessidade por melhores diretrizes quanto ao uso de medicamentos à medida que os esforços para tratamento se intensificam. "Significa que precisamos ser inteligentes quanto ao uso das drogas para evitar ao máximo a ocorrência de resistência", diz Scott Hammer, chefe do departamento de doenças infecciosas do Centro Médico Colúmbia-Presbyterian, em Nova York, que participou da conferência da Sociedade Internacional da Aids, em Paris, nesta semana, e viu uma cópia prévia do estudo.