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ENONG 2007

05/11/2007 - Agência Aids

Tema: Repensar o movimento de luta contra a aids

ENCONTRO NACIONAL DE ONGS COMEÇA COM O TEMA ‘REPENSAR MOVIMENTO DE LUTA CONTRA A AIDS’

“O Enong é nosso, o enong é nosso!”. Foi dessa forma que uma multidão de ativistas da Aids iniciaram a abertura do Encontro Nacional de ONGs, em Goiânia, Goiás. O encontro foi cancelado na última quarta-feira, mas ativistas reverteram a decisão e conseguiram um novo local, mais distante da cidade, mas com amplo espaço para a realização das atividades. Os integrantes da mesa de abertura do evento pediram para todos pensarem e repensarem o movimento social, tema principal da abertura. A maratona para reerguer o evento durou trës dias, com bastante estresse, segundo os organizadores. Em entrevista para Agência de Notícias da Aids, Maria das Dores Dolly Soares, presidente do Fórum de ONG/Aids de Goiás e da antiga comissão, disse que cancelou o evento para pressionar o movimento social. Confira.

No fim da tarde deste domingo, um dos principais articuladores da nova comissão do Enong 2007 e membro do Conselho Nacional de Saúde, José Marcos de Oliveira disse que o momento atual não é de festa. “Temos que reavaliar todo movimento social. Espero que tudo que aconteceu aqui não seja esquecido em dois meses, porque eu não vou esquecer”, disse José Marcos de Oliveira.

Para ele, um primeiro passo para melhorar o movimento é acabar com o que ele chama de ‘perfumaria’. “Está na hora de acabar com luxo extensivo, quem trabalha com evento sabe que é extremamente chato ouvir pessoas exigirem avião, toalha, shampoo de tal marca no hotel”, disse ele ao pedir um novo movimento contra o luxo na Aids.

Os discursos gerais de abertura dos ativistas eram o de preocupação. Bete Franco, ativista do Grupo de Incentivo à Vida, comparou a cancelamento do Enong e a reversão do evento como um enfarte. “Foi uma parada cardíaca e isso significa que o movimento vai mal. É imperdoável a gente perder o ministro da saúde (que estava programado para ir ao evento, antes do cancelamento).”, disse a ativista

“Acho que devemos repensar um pouco. Devemos cuidar (do movimento) ou não?, perguntou ela para a platéia. Bete Franco narrou no início do evento todo o trâmite enfrentado por ela e outros ativistas para organizar novamente as atividades, em três dias.

Já o ativista Léo Mendes, secretário de comunicação da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis) criticou a antiga comissão organizadora do evento. “Falaram que o problema era a falta de programação política, isso a gente resolvia num instante. Não tinha mesmo nada programado, O PowerPoint apresentado pra gente, com sofá branco, era tudo ficção”, afirmou.

Eduardo Barbosa, diretor-adjunto do Programa Nacional de DST/Aids, disse que o momento é de reflexão. “Concordo com José Marcos, o momento não é de festa. E o governo também não deve ser lembrado apenas como um mero fornecedor de recursos. A Dra. Mariângela (Simão) está voltando de um evento do Fundo Global em que apresentou uma mesa sobre parceria e sociedade civil, pensem nisso”, pediu Barbosa.

Outro Lado

Procurada pela reportagem, Maria da Dores Dolly Soares, presidente do Fórum de ONG/Aids de Goiás, explicou que o cancelamento do Enong foi realizado para pressionar o movimento social.

“Fiz isso para mexer com o movimento e aí eles caíram na real. Precisava acabar com essa história de encontro via internet”, comentou em entrevista para a Agência Aids.

Tudo teria começado, de acordo com ela, na realização da Parada Gay de Goiânia, quando o Fórum de ONG/Aids de Goiás venceu licitação do Ministério da Cultura, para a realização do evento. “Com essa história, a comissão local (do Enong) foi esvaziada, parecia que ninguém estava interessado em ajudar”, relata. Ela ainda acrescentou que vem recebendo ameaças por telefone depois de conseguir ganhar a realização da Parada.

Dolly afirma que foi repassado até o momento cerca de R$ 113 mil, via Programa Nacional de DST/Aids, para a realização da programação do evento. Mas, a organização ainda sim necessitava de mais dinheiro e, por isso, foi captar recursos. “Essa atividade ficou a cargo da Letícia (Marques) da ONG Laços, mas como não conseguimos, procurei ajuda e não obtive resposta. Mas, agora estou satisfeita, isso mexeu com todo mundo e agora é hora de repensar o movimento”, contou.


Rodrigo Vasconcellos