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CORTES DE FUNDOS PARA LUTA CONTRA AIDS

22/07/2010 - EFE

Países ricos viram alvo na conferência sobre Aids

Países ricos viram alvo na conferência sobre Aids por cortes de fundos

As críticas à falta de compromisso dos países mais ricos do planeta com a luta contra a Aids protagonizaram a Conferência Internacional Aids 2010, em Viena, no penúltimo dia do evento.

Uma das vozes que mais claramente expressou sua decepção é a de Julio Montaner, presidente da conferência que desde o último domingo reúne 25 mil especialistas, voluntários e soropositivos.

Montaner responsabilizou diretamente os países do Grupo dos Oito (G8, países mais industrializados do mundo e a Rússia) pela previsível queda de recursos no combate à doença, já que as nações do grupo foram as criadoras do Fundo Mundial contra a Aids, a Tuberculose e a Malária, que atualmente conta com US$ 10 bilhões para combater o HIV.

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) calcula que são necessários US$ 25 bilhões para que todos os soropositivos tenham acesso ao tratamento.

Atualmente, ao redor de cinco milhões de pessoas têm acesso aos antirretrovirais. Outras dez milhões, não.

"Temos um caso de negligência criminosa por omissão que chega perto do genocídio, porque se nós fizemos a promessa de poder fazer a epidemia (da Aids) parar, agora vocês (dos países ocidentais) dizem que tudo isso não interessa", declarou Montaner à Agência Efe.

A mesma linha foi seguida por 13 ONGs que reprovaram a maioria dos países do G8, com a notável exceção da Rússia, que se sobressaiu positivamente por sua contribuição econômica ao fundo.

Entre os países desenvolvidos, Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Canadá foram aprovados pelas ONGs, que por sua vez criticaram Itália e Áustria.

As notas dadas hoje a 13 países desenvolvidos pretendem chamar a atenção da sociedade civil para que os Governos mantenham seu compromisso com um fundo que financia tratamento de antirretrovirais para 2,8 milhões de soropositivos.

A conferência também ofereceu hoje boas notícias, como o acordo entre o Unaids e a Associação Stop TB, que combate a tuberculose, com o objetivo de reduzir as mortes pela combinação entre HIV e tuberculose pela metade até 2015, o que representaria menos 250 mil mortes por ano.

"A tuberculose é a face da morte para os pobres que têm HIV e para os pobres em geral", declarou à Efe o dominicano Marcos Espinal, presidente da Stop TB, lembrando que apenas US$ 25 podem evitar uma morte.

O Unaids calcula que uma em cada quatro mortes pela Aids se deve à tuberculose, uma "epidemia dupla" que castiga as regiões mais pobres da África e da Ásia, onde se concentra a imensa maioria de casos de contágio pelo HIV.

"A cada três minutos, uma pessoa com Aids morre prematuramente devido à tuberculose. Isto é absolutamente inaceitável, porque é uma doença que pode ser prevenida e curada", disse o ex-presidente português Jorge Sampaio, enviado especial da ONU para a tuberculose.

Patentes
Também foi divulgado hoje que algumas das mais importantes empresas do ramo farmacêutico iniciaram negociações para criar um fundo comum de patentes com o objetivo de baratear a luta contra a Aids.

Esta iniciativa, liderada pelo Unitaid, fundo internacional para a compra de medicamentos, é considerada um passo decisivo para melhorar o acesso dos países pobres aos remédios que combatem a pandemia, graças a novas formas para fabricar genéricos.

Segundo Ellen 't Hoen, especialista em propriedade intelectual do Unitaid, o fundo comum representaria uma economia de bilhões de dólares.

O tratamento com antirretrovirais custa milhares de dólares por ano em diversos países e, por isso, não é acessível em grande escala nas nações mais pobres, onde se concentra a imensa maioria dos soropositivos.