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TRATAMENTO CONJUNTO DE AIDS/TUBERCULOSE
01/08/2010 - LE MONDE
Reduz mortalidade de soropositivos
Tratamento conjunto de Aids e tuberculose reduz mortalidade de soropositivos
Esquece-se com frequência de que à sombra da Aids, existe a tuberculose. Ao enfraquecer o sistema imunológico das pessoas que ele infecta, o HIV as torna mais sensÃveis à ação dos germes patogênicos. O bacilo de Koch, por sua vez, em recrudescimento há cerca de vinte anos, costuma ser endêmico nos paÃses pobres.
Consequência: segundo os últimos números da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,37 milhão de pessoas no mundo eram portadoras dos dois agentes infecciosos em 2008. E cerca de um quarto delas morrem a cada ano não em decorrência da Aids, mas sim da tuberculose, por não terem sido diagnosticadas e tratadas adequadamente quanto a essa doença gravÃssima.
Uma vez que o diagnóstico é feito, qual a melhor forma de tratar os pacientes infectados conjuntamente pelo HIV e pelo bacilo de Koch? A resposta não é fácil, e foi tema de muitos debates durante a Conferência Internacional sobre a Aids, realizada em Viena (Ãustria), de 19 a 23 de julho.
Cada um desses dois tratamentos, na verdade, pode provocar efeitos colaterais. Além disso, combater simultaneamente as duas infecções pode levar a uma reação paradoxal do sistema imunológico, a SÃndrome Inflamatória de Reconstituição Imunológica (SIRI), que agrava o estado do paciente.
Em todos os casos, a urgência vai para o tratamento antibiótico contra a tuberculose, prescrito para uma duração mÃnima de seis a nove meses. Nesse contexto, em que momento deve-se administrar antirretrovirais nos pacientes? Em novembro de 2009, a OMS aconselhava iniciar essa etapa âassim que possÃvelâ, nos dois meses seguintes ao inÃcio dos antibióticos. Mas a validade cientÃfica dessa recomendação ainda devia ser confirmada, ou até mesmo especificada.
Agora está feito. Pela primeira vez, um teste clÃnico, apresentado durante a Conferência de Viena, mostra que os antirretrovirais contra o HIV, para um tratamento ótimo dos pacientes, devem ser iniciados duas semanas apos o inÃcio do tratamento anti-tuberculose.
Conduzido conjuntamente por cientistas cambojanos, franceses e americanos, o teste Camelia (para âCambodian Early Versus Late Introduction of Antiretroviral Drugsâ) foi conduzido no Camboja, entre 2006 e 2010, junto a 661 pacientes recrutados em cinco hospitais. Todos estavam infectados pelo HIV e pela tuberculose. Todos estavam severamente imunodeprimidos. Todos haviam recebido um tratamento anti-tuberculose padrão assim que a tuberculose foi diagnosticada.
Os pacientes foram divididos em dois grupos. Um recebeu um tratamento anti-HIV duas semanas após o inÃcio dos antibióticos, e o outro, oito semanas depois. O objetivo principal do estudo, conduzido por iniciativa da Agência Francesa de Pesquisa sobre a Aids e as Hepatites Virais (ANRS) e dos National Institutes of Health (NIH) americanos, era determinar se a introdução precoce dos antirretrovirais permitiria reduzir a mortalidade.
â150 mil vidas salvas por anoâ
As conclusões do teste, coordenado pelo Cambodian Health Committee (CHC) de Phnom Penh â uma ONG engajada há 15 anos na luta conjunta contra a tuberculose a a Aids â e pelo Institut Pasteur do Camboja, nao deixam espaço para dúvidas. Ao longo dos 26 meses que se seguiram ao inÃcio do Camelia, 59 pessoas morreram no grupo que recebeu um tratamento anti-HIV precoce, ante 90 pessoas no outro grupo â ou seja, um diferencial de 34%. âReduzir em um terço a mortalidade ao dar o tratamento anti-HIV mais cedo significa que podemos salvar 150 mil vidas por anoâ, acredita o Dr. François-Xavier Blanc (CHU Bicêtre, AP-HP), um dos principais pesquisadores desses trabalhos.
Segundo o Dr. Thim Sok, diretor do CHC, esses resultados permitirão âde forma imediata, simplesmente por uma melhor utilização de medicamentos já existentes, salvar inúmeras vidasâ.
Tradução: Lana Lim