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Impostos e atacado encarecem remédios

21/05/2003 - O GLOBO

Os medicamentos chegam com 40% acima do preço de fabricação.

OMS: impostos e atacado encarecem remédios

Deborah Berlinck
Correspondente

PARIS. Os medicamentos no Brasil, mesmo os produzidos localmente, estão chegando ao consumidor com um preço 40% acima do preço de fabricação. O motivo são os impostos e os intermediários da cadeia de distribuição do produto. É o que revela um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da organização Ação de Saúde Internacional.

Foi com base nesse estudo, feito em vários países, que as duas organizações lançaram ontem um manual para ajudar os governos a medir os custos dos remédios, decidir a melhor política de saúde e a comprar mais barato, tanto no mercado doméstico quanto no internacional. A OMS quer que os governos saibam exatamente o quanto cada um está ganhando na venda de remédios e como os preços são determinados.

Manual ensina governos a comprar remédios baratos

No manual, a organização propõe que os governos prestem mais atenção aos componentes do preço dos medicamentos e sugere que façam comparação sistemática entre importados e genéricos. No Brasil, os adicionais ao preço de produção ainda são baixos em comparação com o Peru, por exemplo, onde um remédio importado fica 140% mais caro com impostos, taxas de alfândega, seguro, intermediação dos importadores e atacadistas peruanos. O mesmo remédio importado pela África do Sul fica apenas 20% mais caro depois de entrar no país.

“Não é incomum, nos países em desenvolvimento, pessoas pagarem mais por remédios do que consumidores dos países industrializados. Por exemplo, em 2000, o Lamivudine, usado para tratamento de Aids, era 20% mais caro na África do que em dez países industrializados”, diz o estudo.

No Brasil, o estudo mostrou que a variação de preço de remédio entre regiões é pequena. Mas numa comparação de preços entre setores compradores, as diferenças crescem. O estudo revela que o setor público, quando compra, paga 1,2 vez acima do preço de referência internacional de um remédio, “o que é razoável”, segundo a OMS. Já instituições não-governamentais, como hospitais católicos, por exemplo, pagam 5,4 vezes mais pelos mesmos remédios.

Outra forma de medir o preço é comparar, em diversos países, quantos dias se precisa trabalhar para comprar um medicamento. Levando em conta o salário-mínimo diário brasileiro, o estudo revela que no Brasil um funcionário público precisa de mais de 15 dias de salário para comprar o genérico Omprazole (para 30 dias de tratamento de úlcera), enquanto no Peru, precisa-se de menos de cinco dias.