Notícias

O PROBLEMA DA HEPATITE C

05/02/2004 - ESTADO DO PARANÃ

Hepatite C: de incógnita a uma epidemia silenciosa

Marçal Ribeiro alerta para evolução da hepatite C.

Até quinze ou vinte anos atrás, ela era uma incógnita, tratada pelos médicos apenas como hepatite "não a" e "não b". Depois de acometer milhares de pessoas - há cerca de 250 mil casos registrados no Brasil, mas a estimativa é que esse número seja duas ou três vezes maior -, o assunto vem ganhando espaço.

A mídia tenta fazer a sua parte, com propagandas alertando que as pessoas que receberam transfusão de sangue anterior a 1992 devem se submeter a testes de hepatite C. Mas o governo ainda peca pela falta de atendimento. A opinião é do médico hepatologista Marçal Ribeiro, diretor-superintendente do Hospital São Vicente e da Fundação de Estudos de Doenças do Fígado (Funef).

"A função da saúde pública é impedir que as doenças - no caso, hepatite C - se alastrem, mesmo porque o custo de um transplante (de fígado) é muito maior do que o tratamento. No entanto, o governo não está assumindo essa responsabilidade", lamenta o médico. Segundo ele, um exemplo é a campanha veiculada na mídia sobre a importância de se submeter a testes de hepatite C, promovida por uma ONG e não pelo Ministério da Saúde. "Estão dando uma importância muito menor do que deveriam", opina.

Flagelo

O médico lembra que a hepatite tipo C é mais grave do que a do tipo A e B. "O vírus A não deixa crônica a doença; há uma morte em cada mil doentes. A do tipo B cronifica em 7% dos casos, mas a C cronifica em 20% a 30% dos casos", alerta, acrescentando que quase 80% dos casos evoluem para cirrose. "Conforme pesquisa que realizamos, de cada 14 casos de câncer de fígado, 11 tinham relação com a hepatite C, dois com a B e apenas um com A", acrescenta. "Daqui a dez ou quinze anos, a hepatite C será um flagelo", sentencia.

O vírus é transmitido através do sangue. Daí a importância de pacientes que receberam transfusão de sangue se submeterem a exames. "Essas pessoas têm risco muito maior de ter a doença, já que podem ter recebido sangue contaminado sem saber", alerta. Usuários de drogas e tatuados também fazem parte do grupo de risco, já que podem ter usado agulhas contaminadas.

O médico lembra que cerca de 60% dos casos de hepatite C têm a causa conhecida. O restante não tem fonte de infecção comprovada, o que dificulta ainda mais os estudos e a prevenção. "O intestino do homem, por exemplo, pode ser o habitat natural do vírus. Ele também já foi descoberto na mucosa da boca."

Processo

Marçal Ribeiro conta que tem destacado a importância sobre a realização de exames para detectar a hepatite C desde 1992. "Isso motivou uma reação de vários bancos de sangue, entre eles do Hospital de Clínicas, que me acusou de promover alarde. Fui denunciado no Conselho Regional de Medicina e tive que depor. Quase 12 anos depois é que o governo e a mídia passaram a se preocupar com o assunto", lamenta o médico.

Outra questão que preocupa Ribeiro é a falta de segurança do exame. "Pode demorar até seis meses para que o vírus apareça nos testes de uma pessoa contaminada. Isso porque eles servem para detectar a presença de anticorpos e não do vírus. Portanto, um resultado negativo nem sempre significa que não haja a presença do vírus", arremata.