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QUALIDADE DE VIDA

18/02/2004 - TRIBUNA DA IMPRENSA (RJ)

Mulheres, negros e pobres são mais afetados

BRASÍLIA - A auto-percepção de mulheres, negros e pobres portadores do vírus HIV sobre sua qualidade de vida sugere que esses três parâmetros são mais comprometidos psicologicamente pela doença. A análise é da professora de educação física e mestre em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP), Elizabete Morandi dos Santos.
A professora relatou os resultados de sua pesquisa de mestrado, realizada no ano passado com pacientes da Casa da Aids, órgão ligado ao Hospital das Clínicas da faculdade de medicina da USP que atende a região central de São Paulo.
A pesquisa consistiu na aplicação de um questionário da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre qualidade de vida a 365 pacientes portadores do vírus HIV.
No caso específico das mulheres, um total de 135 pacientes, foi verificado que nas questões ligadas aos aspectos do meio ambiente em que vivem e ao aspecto psicológico elas apresentaram as piores notas.
As perguntas sobre o meio ambiente abordavam a segurança física, o ambiente do lar, recursos financeiros, os cuidados de saúde, a participação em atividades de lazer e recreação e a satisfação com o ambiente físico como poluição, ruído, trânsito e transporte.
As perguntas sobre os aspectos psicológicos se referiam à auto-estima, imagem corporal e aparência e sentimentos negativos dos pacientes.
"Os resultados nos apontam para a atenção especial que deve ser direcionada às mulheres, porque todos recebem o mesmo tratamento, têm acesso ao encaminhamento, ao grupo de sorologia, ao atendimento especializado da Casa da Aids, com uma equipe multidisciplinar, mas mesmo assim as mulheres apresentaram essa diferença, assim como os negros, pardos e pessoas com menor renda e escolaridade nas questões que tratam dos aspectos psicológicos ou meio ambiente e na participação de atividades de lazer e recreação", afirma Elizabete.
De acordo com a pesquisadora, mesmo a descoberta dos novos medicamentos anti-retrovirais, que modificaram as condições de saúde da população com HIV/Aids diminuindo a incidência de doenças não foi suficiente para melhorar a qualidade de vida dos portadores do HIV.
Ao contrário, os efeitos colaterais de alguns medicamentos criaram problemas relacionados à imagem corporal e aparência. É o caso da lipodistrofia, disfunção que causa o acúmulo ou perda de gordura em áreas localizadas do corpo.
"Com isso a população com HIV/Aids pode estar sofrendo de outros problemas, como o estigma associado ao HIV, já diferenciado do que era antigamente, quando os portadores do vírus eram extremamente magros", explica a professora.
Com os resultados da pesquisa, Elizabete pretende elaborar junto com seu grupo de trabalho estratégias para diminuir as diferenças encontradas. Uma das alternativas é o aumento da participação dos pacientes em atividades físicas, que podem contribuir para a melhoria da auto-imagem e da qualidade de vida dos soropositivos.
(Agência Brasil)