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NA LUTA CONTRA AIDS

06/03/2004 - AFP Internacionais

Luta contra a Aids se beneficia do "impulso da esperança"

A luta contra a Aids no mundo tem de se recuperar de um enorme atraso, afirmou esta quinta-feira o diretor da ONUAIDS, Pier Piot, embora tenha reconhecido que, no momento, esta luta observa um verdadeiro "impulso da esperança".
"Sem dúvida, estamos em meio a um impulso político em escala mundial", disse Piot, ao falar do "impulso da esperança" gerado para o acesso possível aos anti-retrovirais (ARV) e ao "impulso financeiro", graças aos fundos disponíveis na luta contra a Aids.
O desafio é agora saber "como utilizar melhor estes fundos", destacou.
Koichiro Matsuura, diretor da Unesco e presidente em exercício do ONUAIDS, lembrou que o objetivo do encontro de Livingstone, que reúne as agências da ONU que trabalham no programa contra a Aids, e vários ministros africanos, é "encontrar os meios mais eficientes para trabalhar juntos".
"A Aids é um desastre para o desenvolvimento. Ela arruína décadas de investimentos em educação e no desenvolvimento humano", disse Matsuura, antes de afirmar: "infelizmente, temos que reconhecer que estamos em atraso".
Até o momento, não há vacinas ou medicamentos 100% seguros no mercado. "A prevenção continua sendo vital se quisermos frear a expansão da epidemia", destacou o diretor da Unesco, ao afirmar que "até agora não respondemos à questão da prevenção de forma satisfatória".
"Chegamos a um ponto crítico com a tripla ameaça devastadora por um lado - o HIV/Aids, a forma inadequada e a fome - e por outro, uma imensa ocasião para canalizar os recursos e capacidades nacionais, regionais e internacionais para fazer a pandemia retroceder", destacou, por sua vez, um documento de trabalho elaborado pela ONU para o encontro.
"A pandemia (na África oriental e austral) atingiu um nível em que a morte é visível e onde se sente de forma visceral", continuou.
"É preciso lutar", disse o presidente zambiano Levy Mwanawasa, ao dar início aos trabalhos, afirmando que no que diz respeito à Zâmbia, seu governo se compromete com "toda a vontade política necessária" na luta contra a Aids.
Mwanawasa destacou que 70% dos habitantes da África austral - região do mundo com maior índice de afetados, com um adulto a cada três soropositivos - vivem abaixo do limite da pobreza, o que torna mais difícil a mobilização de fundos para lutar contra a Aids.
O presidente lembrou que naquele país mais da metade dos leitos hospitalares estão ocupados por doentes de Aids e que cerca de 40% dos professores são soropositivos.
Segundo números da ONU, no final de 2003, havia na África subsaariana 26,6 milhões de soropositivos dos 65 milhões existentes no mundo.
Para alguns países africanos, o índice de incidência entre os adultos varia entre 40% e 60% no caso dos mais afetados.
Segundo um documento de trabalho entregue aos delegados, a educação "de cima para baixo" não é a mais apropriada para deter o avanço da epidemia, e é preciso insistir na informação sobre HIV/AIDS "para seu enraizamento nas realidades culturais" das comunidades afetadas.
Além das agências da ONU, vários ministros da África austral (Botsuana, Lesotho, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue) participam da reunião de Livingston, que se encerra nesta sexta-feira.