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PRESERVATIVOS NO SISTEMA PRISIONAL

09/03/2004 - CORREIO DA BAHIA

Detentas têm dicas de sexo seguro no Dia Internacional da Mulher

Especialistas distribuem preservativos e falam sobre prevenção de DSTs

Embora acanhadas, um pouco assustadas e sem saber direito o que aquelas três letrinhas - DST - significavam, as internas da Penitenciária Feminina de Salvador marcaram presença, ontem pela manhã, no salão polivalente do presídio para conferir as dicas de sexo seguro transmitidas pela equipe do Centro de Referência das Doenças Sexualmente Transmissíveis e Centro de Testagem e Aconselhamento (DST/Coas)

A palestra fez parte da comemoração do Dia Internacional da Mulher no Complexo Penitenciário de Mata Escura.

Usar sempre preservativo nas relações sexuais, não dividir seringas, não manter contato com secreções e evitar o uso compartilhado de objetos perfurocortantes foram algumas das orientações passadas pela assistente social Heloíse Andrade e pela psicóloga Lígia Aragão, ambas do DST/Coas. "Esses cuidados são importantes não apenas no dia 8 de março e não somente dentro do presídio. Depois que saírem daqui, na vida lá fora, a prevenção também é fundamental", salientou Heloíse Andrade.

Durante a palestra, preservativos foram distribuídos às internas, inclusive o modelo feminino, com direito à demonstração de uso. Na televisão, um vídeo explicativo trouxe depoimentos de mulheres soropositivas de diferentes classes sociais. Em se tratando de sexualidade feminina, em particular, uma das questões mais delicadas em relação ao uso da camisinha é a negociação com o parceiro, já que muitos homens ainda costumam resistir. "Logo, cabe às mulheres promover essa negociação. Para isso, elas precisam estar munidas de informação", reforçou a assistente social.

Números - Numa cidade como Salvador, onde 10% das mulheres são portadoras de alguma modalidade de DSTs, há três casos confirmados de Aids e 15 de sífilis na Penitenciária Feminina - num total de 136 internas, atualmente. Magali Carvalho, funcionária do serviço médico do presídio, conta que todas estão em tratamento. As pacientes com HIV são encaminhadas para o Centro de Referência Estadual de Aids (Creaids) e tratadas, quando necessário, com coquetel anti-HIV.

Assim que as internas chegam ao presídio, elas são submetidas a uma triagem que envolve exames de HIV, VDRL (sífilis), fezes, urina, hemograma e preventivo ginecológico. "Sem falar em nossa campanha de prevenção ao câncer de mama, quando damos dicas de auto-exame e encaminhamos à mamografia as internas com mais de 40 anos", explica Magali Carvalho. O serviço médico do presídio, que realiza uma média de 40 atendimentos diários, também contabiliza as constantes queixas de cólica menstrual e dor de cabeça.

"Hoje, estamos com um caso de tuberculose, o qual sempre fazemos o rastreamento assim que começa a tosse", informa Magali Carvalho. Na Penitenciária Feminina, inclusive, as detentas têm o direito de usufruir as celas de encontros íntimos, na qual recebem seus parceiros. Estes, por sua vez, fazem exames de HIV, VDRL e recebem preservativos, enquanto as mulheres fazem planejamento familiar.

Além de comemorar o Dia Internacional da Mulher com muitas dicas de saúde, as detentas festejaram, à tarde, os 14 anos da Penitenciária Feminina. O espaço veio trazer maior conforto e tranqüilidade à população carcerária feminina, que, anos atrás, contavam apenas com uma ala do presídio masculino. A festa, que durou das 14h às 16h45, teve direito a bolo, refrigerante e atividades recreativas, como vôlei, damas e pingue-pongue.