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NOVO TESTE DE HIV

01/06/2004 - The New York Times

dá resultado com menos dor e mais rapidez

Visto como um dos mais angustiantes rituais dos cotidiano, o exame pode se humanizar

David Tuller

Nada do que eu fiz nos dois anos desde meu último exame de HIV me fazia crer que seria positivo. Mas sou homossexual ativo, de 46 anos, em San Francisco. Como muitos dos meus amigos, procuro fazer o teste de vez em quando, para me lembrar das vantagens de praticar o sexo seguro.
O intervalo de uma semana entre a coleta do sangue e a entrega do resultado sempre foi uma tormenta. A espera garante algumas noites de inquietação e faz a pessoa confrontar seus temores e seu passado.
Você repassa sua vida sexual na tela de sua mente, pausando para examinar certos momentos com detalhes torturantes. Você se enlouquece criando vias difíceis, mas teoricamente possíveis de infecção. Você passa pelos cinco estágios de luto descritos por Elisabeth Kubler-Ross. Quando o resultado vem negativo, a onda de alívio ajuda a acalmar, ao menos por um tempo, o barulho em sua mente.
Então, me perguntei como ia me sentir desta vez, com o novo exame de HIV rápido, que comprime o ciclo de uma semana em 40 minutos. O Departamento de Alimentos e Drogas (FDA), o equivalente americano ao Ministério da Saúde, aprovou essa nova técnica em novembro de 2002 e, mais recentemente, aprovou um teste que usa a saliva em vez de sangue.
Segundo dados do governo, quase um terço das pessoas que faz os testes subsidiados não volta para pegar o resultado. Como muitos desses exames são anônimos, contatar os infectados fica impossível. As autoridades esperam que o uso crescente do teste rápido ajude a aumentar o número de pessoas que receberão o resultado de seus exames e portanto saberão de sua infecção, em caso positivo.
Na minha clínica local, o orientador -nervoso, cuidadoso, de cabelo espetado- parece ter 13 anos, mas diz que tem 33. Ele perdeu um parceiro para a Aids, como eu. Seu trabalho é duro. Apesar dos avanços notáveis de tratamento dos últimos anos, não gostaria de ter que informar a jovens assustados que estão infectados com um vírus letal.
Ele explica que precisa apenas de uma gota de sangue do meu dedo, não o tubo de sangue tirado da veia, como antes. Isso foi uma verdadeira bênção para quem tem medo de agulha, como eu. Ele também me diz que o resultado negativo é conclusivo, mas que, em caso positivo, terá que tirar sangue para confirmação.
Ele me envia para a sala ao lado, onde uma atendente alegre espeta meu dedo. Quando eu volto, ele começa a fazer o questionário de sempre, sobre minha vida sexual.
Preservativos? Sempre. Algum rasgou? Não. Quantos parceiros no último ano? Suficientes. Algum deles sabidamente positivo? Sim. Mulheres? Nenhuma. Sexo sob a influência de álcool? Raramente.
Discutimos os riscos relativos do sexo anal (alto) e do sexo oral (baixo, muito baixo). Eu sei que, para um homossexual solteiro como eu, uma resposta à Aids seria evitar o sexo. Mas eu valorizo o toque, então o celibato não me parece uma opção viável.
Eu também poderia, suponho, limitar meus contatos a homens HIV negativos. Heterossexuais recomendam essa estratégia, como se fosse óbvia. Mas sua gama de possíveis parceiros não é tão cheia de risco. Na minha cidade, muitos gays que encontro são HIV positivos. Graças à atual geração de medicamentos, muitos mantiveram a doença controlada e continuam a viver vidas plenas.
Rejeitar um número tão grande de pessoas me parece errado, como rejeitar uma pessoa por ter câncer ou diabete. Esse tipo de discriminação, apesar de compreensível, há muito foi batizada na comunidade gay de apartheid viral.
Certamente conheço homens que ficaram positivos nos últimos anos. Camisinhas furadas. Escorregões. Atos impulsivos impulsionados pelo desejo, drogas e uma necessidade de conexão. Conheço a dor que os levou até lá -a morte de amigos e amantes, a solidão. Entendo como a infecção pode ser um instante de alívio; terminou, a luta acabou.
Depois de tantos anos de autocontrole, me vi tentado a jogar tudo para o ar e soltar as amarras. Mas não faço isso. Porque sei que teria que enfrentar exames e remédios e decisões de tratamento e que seriam para sempre.
Se você é gay e mora em San Francisco, essas ansiedades vêm e vão. Mas, na semana em que você espera para saber seu destino, as doses são sempre concentradas. Desta vez, elas não conseguem ganhar força e intensidade. E o alívio, quando vem, parece um anticlímax.
Meu orientador vai à sala ao lado pegar os resultados. Minha respiração pára. Ele volta. Está sorrindo. "Bom, é negativo, como eu pensei", diz ele.
Meu corpo relaxa. Eu sorrio. Coloco meu casaco, me levanto, agradeço e passo pela sala de espera, onde vários homens estão sentados ansiosos. Ainda estou negativo, mas é provável que outra pessoa tenha más notícias esta noite.

Tradução: Deborah Weinberg