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HEMODERIVADOS PARA PACIENTES DO SUS

02/06/2004 - O GLOBO

Deputados aprovam a criação da Hemobrás

BRASÍLIA. Em meio às denúncias de envolvimento de integrantes do Ministério da Saúde com a Máfia do Sangue, o governo conseguiu aprovar ontem, em votação simbólica na Câmara, a criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). A Hemobrás terá como função produzir hemoderivados para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a empresa, o governo pode abrir mão da compra de hemoderivados, evitando transações com empresas privadas do setor.
O plenário aprovou o texto-base, mas restam três destaques que deverão ser votados ainda hoje. O projeto terá que ser apreciado pelo Senado e sancionado pelo presidente. Enviado em 2003, o projeto ganhou prioridade há duas semanas, quando a Operação Vampiro mostrou fraudes nas licitações para compra de hemoderivados realizadas pelo ministério entre 1990 e 2002.
Embora o país tenha grande disponibilidade de plasma humano, importa parte substancial dos derivados de sangue porque falta tecnologia para o processamento. A Hemobrás produzirá os hemoderivados a partir do fracionamento de plasma obtido no Brasil sem fins lucrativos. O projeto proíbe a venda dos produtos.
O vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), afirmou ontem que a Hemobrás também permitirá uma economia nos gastos de importação, que hoje variam entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões.
— A economia prevista é de 30% a 50% do que é gasto hoje nas compras no exterior — afirmou Beto.
Segundo a assessoria do PT, o investimento estimado para a implantação da fábrica seria de US$ 55 milhões.

Oposição critica criação de empresa

Parlamentares do PFL e do PSDB criticaram a criação da Hemobrás, argumentando que o governo poderia utilizar o know-how de duas empresas públicas que já trabalham com sangue: Hemocentro e Instituto Butantã de São Paulo. Segundo o tucano Luiz Carlos Hauly (PR), o governo poderia fazer uma parceria com o governo de São Paulo e garantir a produção de hemoderivados em menos de seis meses.
— Instalar a empresa em Brasília levaria no mínimo dois anos — disse Hauly.
O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), ironizou:
— O governo está querendo é criar a Vampirobrás. Estão querendo desviar o foco das atenções do escândalo.