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ESTUDO SOBRE JOVENS SOROPOSITIVOS:

29/06/2004 - Agência Aids

Revela que eles procuram vida normal, mas temem discriminação

O resultado de uma pesquisa qualitativa feita em São Paulo e Santos com adolescentes portadores do HIV/AIDS e seus respectivos cuidadores (pais, familiares e cuidadores institucionais) revela que os jovens soropositivos almejam construir famílias e carreiras profissionais, porém sofrem do estigma da doença. O estudo, patrocinado pelo Enhancing Care Iniative (ECI), foi divulgado nesta terça-feira, 29, com a participação de médicos, pesquisadores e especialistas.
O ECI teve início no Brasil em 1998, mas foi em 2001 que iniciou o estudo “Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/AIDS: cuidado e promoção da saúde no cotidiano da equipe multiprofissional”. De acordo com José Ricardo Ayres, professor associado da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador do ECI-Brasil, o objetivo da pesquisa foi estudar as necessidades psicossociais dos adolescente vivendo com HIV/Aids, com pretensão de contribuir nos serviços de saúde.
“O que mais impressionou no projeto foi o estigma e a discriminação sentida pelos adolescentes. Sabemos que devido a doença, há limitações, mas as apresentadas por eles são injustificáveis e atingem as felicidades deles”, comentou Ayres.
Os principais coordenadores do estudo apresentaram a avaliação feita com os adolescentes. Heloísa Helena Marques, médica pediatra do Instituto da Criança da FMUSP, abordou a revelação dos diagnósticos positivos para o HIV. “Culpa e medo são os sentimentos principais que tanto os cuidadores e adolescentes sentem nos momentos de falarem sobre a sorologia, mas depois se sentem aliviados”, explicou Heloisa.
Para Neide Gravato da Silva, assistente social do Programa Municipal de DST/AIDS de Santos, foi observado nos adolescentes um grande desejo de ter filhos, porém todos comentam sobre o medo de infectá-los.
Os depoimentos dos adolescentes, mostrados no evento, comprovou a percepção dos pesquisadores. “Receio o quanto a discriminação pode atrapalhar minha carreira e minhas relações pessoais”, disse uma adolescente de 14 anos, infectada via trasmissão vertical. Já o adolescente de 18 anos, infectado durante relação sexual, destacou que gostaria de ter um filho, mas não vai poder devido sua sorologia positiva.
Como pesquisadores do projeto falaram ainda Ivan França Junior, médico sanitarista do Departamento de Saúde da FMUSP (estigma e discriminação); Mariliza Henrique da Silva, médica infectologista do Centro de Referência em DST/AIDS do Estado de São Paulo (revelação do diagnósticos a terceiros) e Vera Paiva, psicóloga do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP (namoro e sexualidade).
Após a divulgação de todas as percepções, o Governo e a sociedade civil organizada debateram os dados da pesquisa. O coordenador do Programa estadual de DST/Aids de São Paulo, Artur Kalichman, afirmou que a discussão sobre o combate da Aids no Brasil está em outro patamar. “Estamos passando por um momento que é analisar a vida de pessoas que nasceram com HIV e chegaram à adolescência. Após a divulgação dessa pesquisa, vamos poder agir com mais competência”, afirmou.
Thereza Lamare Franco, coordenadora nacional de saúde do adolescente e do jovem, destacou a preocupação nacional em criar uma política de saúde para os adolescentes. “Enquanto a cura da Aids não é descoberta, precisamos melhorar cada vez mais a qualidade de vida dos portadores da doença”, destacou
Já Elizabeth Franco, integrante do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), representou os adolescentes vivendo com HIV/AIDS. Segundo ela, a pesquisa tem mérito por ter dado voz aos adolescentes. “Porém, registrou que as unidades de saúde não sabem acolher bem esse público”, completou
A Enhancing Care Iniative é um projeto coordenado pelo Harvard AIDS Institute e François-Xavier Bagnound Center for Health and Human Rights, da escola pública de saúde de Harvard dos Estados Unidos com apoio do Merck Sharp and Dohme.