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FUGA DE MÃDICOS E ENFERMEIROS AFRICANOS

17/08/2004 - Agência Aids

A ida para os EUA e Europa agrava o problema no continente

Em Gana e Zimbábue, três quartos de todos os médicos emigram anos após se formarem. Randall Tobias, o coordenador de Aids do presidente Bush, disse em um recente discurso que há mais médicos etíopes atuando em Chicago do que na Etiópia.
O problema não é novo, particularmente quando se trata dos médicos africanos, mas como Celia Dugger escreveu recentemente no Times, a fuga de enfermeiros é um fenômeno crescente, abastecido principalmente pela falta de profissionais em países ricos.
Em vez de pagar salários que atraiam profissionais nacionais, os hospitais americanos fazem recrutamento no Caribe, nas Filipinas, Índia e África. O mesmo acontece na Grã-Bretanha. De 1994 a 2001, o número de enfermeiros trabalhando na Grã- Bretanha e vindos de fora da Europa subiu para 15 mil de 2 mil.
O grupo “Médicos pelos Direitos Humanos” recentemente publicou um detalhado relatório sobre este problema e suas conseqüências. Uma delas é que os países mais pobres do mundo estão fornecendo ajuda médica para os mais ricos. A ONU estima que cada vez que Malawi forma um médico que atua na Grã-Bretanha, isso representa uma economia de US$ 184 mil ao país.
É fácil entender por que o trabalho no exterior é atraente. A Aids e a tuberculose sobrecarregaram os serviços de saúde da África a um ponto de esgotamento, criando demandas impossíveis para os enfermeiros, em particular. Eles realizam seu trabalho sem equipamento ou remédios adequados. Seus salários chegam sempre atrasados.
Eles correm o risco de infecções – em alguns locais, até as luvas são escassas. Enquanto os países ricos têm, em média, 222 médicos para 100 mil pessoas, Uganda tem menos de seis. Malawi tem 17 enfermeiros para cada 100 mil habitantes; os países ricos têm mais de mil.
Esse é um problema sem uma fácil solução. Uma das piores idéias seria qualquer tipo de restrição à emigração, o que não seria apenas discriminador, mas também contra-produtivo. Os africanos deixariam de estudar medicina.
Apesar disso, não é adequado para os países ricos, que podem pagar os enfermeiros a fim de criar uma grande força de trabalho nacional, lançarem anúncios em vez de recrutar profissionais habilidosos em locais como a África do Sul. Em 2001, o Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha prometeu não recrutar enfermeiros sem o acordo de seus países, mas os hospitais particulares e casas de repouso ainda fazem isso.
Os médicos africanos e enfermeiros sabem que eles são necessários em casa, e muitos resistiriam à re-locação se as condições fossem suportáveis. A solução óbvia a longo-termo para a fuga de médicos seria os países ricos reembolsarem os sistemas de saúde e educação da África pelo custo de roubar seus profissionais, e aumentar o financiamento e ajuda técnica aos sistemas de saúde – em sua totalidade.
A preocupação com a Aids criou uma oportunidade ao focar a atenção mundial ao miserável sistema de saúde da África. Melhorá-lo custaria pouco dinheiro, falando relativamente, e acabaria com o êxodo de médicos e enfermeiros que está acelerando a devastação da epidemia.