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QUEDA NA QUALIDADE DOS SERVIÃOS DE AIDS

20/08/2004 - Agência Aids

Especialista chama atenção no 4º Congresso Pta de Infectologia

O médico Celso Ramos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, apresentou a evolução dos consensos brasileiros para o tratamento de HIV/AIDS ao longo dos anos, nesta quinta-feira, 18 de agosto, no 4º Congresso Paulista de Infectologia. O Dr. Ramos abordou, também, a história da resposta brasileira à epidemia.

Em 1988, o Brasil regula o uso do AZT. Um ano depois, em 1989, é criada a Comissão Nacional de Aids. Em 1991, o governo brasileiro começa a distribuir os remédios disponíveis na época. Em 1996, a comissão elabora o primeiro consenso terapêutico que tem por objetivo definir condutas medicamentosas seguras e eficazes aos portadores do HIV/AIDS. Neste mesmo ano, o Presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei 9.313/96, que dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS.

De acordo com a Lei 9.313, ficou estabelecida a criação de um Comitê Assessor para Terapia Anti-retroviral de Adultos e Adolescentes. O dr. Celso Ramos explicou os objetivos do consenso terapêutico que, segundo ele, define condutas clínicas e terapêuticas consideradas seguras e eficazes à luz do conhecimento médico-científico atual, baseado em resultados de estudos clínicos metodologicamente válidos, publicados em revistas científicas ou apresentados em congressos. O consenso ainda define condutas pouco avaliadas ou danosas ao paciente e que não devem ser utilizadas e facilitar a logística de programação, aquisição, distribuição, dispensação e controle dos medicamentos, de forma a garantir que não haja interrupção do tratamento dos pacientes. “O Consenso não tem um papel deliberativo, o que ele faz é dar as diretrizes medicamentosas para a doença”, comentou o infectologista.

Em 1996, o Brasil introduz a dupla terapia anti-retroviral por intermédio do Comitê. Este ano é um marco no tratamento dos portadores do HIV. Antes desta combinação, a sobrevida de um soropositivo era de cinco meses. Depois de 96, passou a ser de 58 meses. Atualmente, os portadores do HIV/AIDS têm um tempo de vida infinitamente maior, do que quando foi introduzida a terapia anti-retroviral.

Segundo Dr. Ramos, os testes de CD4 e carga viral - responsáveis respectivamente pela contagem das células de defesa e quantidade de vírus no organismo de um portador - foi introduzido em 1997. Com a utilização destes exames, junto com a eficácia dos medicamentos e um maior conhecimento dos efeitos colaterais das drogas usadas no tratamento, o Comitê passou a preconizar um adiamento do início do tratamento.

A terapia tripla usada atualmente foi introduzida no consenso de 1999/2000. Outra sugestão do Comitê foi a tendência de se monitorar mais o paciente antes de iniciar o tratamento. O consenso de 2003/2004 aborda os exames auxiliares, como genótipo/fenótipo responsáveis pelo mapeamento genético do vírus HIV que ajudam a identificar a resistência e sensibilidade do vírus aos medicamentos. A resistência aos medicamentos tem preocupado os médicos, uma vez que as drogas disponíveis para o tratamento são finitas e as mutações virais infinitas.

No final da apresentação o infectologista chamou atenção para o aumento dos gastos com medicamentos anti-retrovirais pelo Ministério da Saúde. Segundo dr. Ramos, em 1996, o Ministério gastou US$ 34 milhões em drogas anti-aids, o que correspondeu a 0.2% do orçamento. Em 2003, os gastos foram US$ 181 milhões e representaram 1,8% da verba do órgão. Junto aos gastos com a Aids, o Dr. Ramos enfatizou as diferenças na qualidade dos serviços entre os estados. “No estado do Amazonas inteiro há apenas um centro de atendimento. A qualidade da assistência médica fora dos grandes centros é um problema a ser resolvido”, enfatizou o médico.

Para o infectologista, a volta de Pedro Chequer à direção do Programa Nacional de DST/Aids é muito positiva. “O programa brasileiro de Aids caiu muito de qualidade nos últimos anos. Ficou muito focado no marketing de que o país tinha o melhor programa do mundo. Agora iremos retomar os padrões técnicos de qualidade que tivemos no passado”.