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ONGS AIDS PROTESTAM

27/08/2004 - Agência Aids

Onde está o melhor Programa de Aids do Mundo?

Ausência de medicamentos para combater doenças oportunistas, falta de kits para exames de medição de carga viral, CD4 e CD8, hospitais super lotados, serviços de baixa qualidade, falta de compromisso dos Estados e municípios no sentido de combater efetivamente a Aids. Estas são as principais queixas das ONG/AIDS de vários Estados brasileiros. A fim de exigir mudanças nesta situação, a Articulação Nacional de Luta contra a Aids, consolidada no Encontro Nacional de ONG (Enong), em 2003, organiza, hoje, 26 de agosto, uma manifestação nacional de protesto em todo o Brasil. Sob o mote Cadê o melhor programa de Aids do mundo?, a manifestação vai reunir ONG e pessoas vivendo com HIV/AIDS de dez Estados da federação, além do Distrito Federal: Paraná, Ceará, Goiás, Paraíba, Amazonas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Apesar de ser um dos poucos países a fornecer gratuitamente medicamentos anti-Aids, o Brasil ainda registra um número expressivo de óbitos provocados pela doença. Uma média anual revela que todos os dias cerca de 27 pessoas morrem vítimas da Aids e 70 são infectadas pelo HIV. Segundo representantes de organizações não governamentais, entre outras complicações, os portadores do HIV sofrem pela falta de leitos em hospitais especializados.

A Situação no Paraná
No Estado do Paraná, onde são registrados cerca de 12.500 casos de HIV/AIDS, o manifesto acontecerá na Boca Maldita, região central da cidade de Curitiba. De acordo com a presidente do Fórum de ONG/AIDS do Paraná, Megumi Tokudoni, existe um grande problema relacionado ao número de leitos hospitalares disponíveis aos pacientes infectados. “Fizemos um levantamento em vários municípios paranaenses e notamos que muitos hospitais que atendem pessoas com HIV/AIDS não têm leitos suficientes.”
Tokudoni destacou também que serão mostradas as falhas nos tratamentos prestados aos portadores do HIV/AIDS. “Faltam medicamentos para doenças oportunistas e médicos infectologistas que sejam especializados e saibam lidar com os pacientes”, explicou.

A Situação em São Paulo
Em São Paulo, o presidente do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), Gil Casimiro, disse que será exigida melhoria em toda a assistência. Porém, o enfoque será para o não cumprimento da Emenda Constitucional 29, que obriga municípios e Estados a destinarem parte do orçamento à saúde. “Vamos mostrar a falta de verba para os serviços de saúde”, destacou.
Segundo o ativista, os portadores de HIV/AIDS do município de São Paulo também enfrentam problemas com a falta de leitos hospitalares. “Os leitos não são divididos de acordo com a complexidade do estado de saúde do paciente, por isso uma pessoa que não esteja em situação grave pode ocupar o lugar de um doente de Aids”, explicou. Casimiro informou ainda que somente na cidade de São Paulo faltam mais de 100 leitos para soropositivos.

A Situação em Pernambuco
De acordo com um dos coordenadores da Articulação Aids em Pernambuco, Pedro Nascimento, o Hospital Correia Picanço, de Recife, é o único da capital a receber casos novos, e está super lotado. “Também falta uma política sistemática de prevenção”, afirma Nascimento. Este tópico em particular – a prevenção – é motivo de preocupação de todos os entrevistados ouvidos pela Agência de Notícias da Aids.

A Situação na Bahia
Na Bahia a prevenção também foi citada como um problema. Para o coordenador do Grupo Gay da Bahia, Javier José Angonoa, o município de Salvador investe pouco nesta área. Angonoa informa que é preciso ampliar a rede de assistência aos portadores de HIV/AIDS em todo o Estado da Bahia: “Apenas 11 municípios baianos contam com coordenações municipais de DST/AIDS”, conta. De acordo com ele, embora a cidade de Salvador concentre 70% dos casos de Aids no Estado da Bahia, a Secretaria Municipal de Saúde não assume a questão da Aids, oferecendo serviços de má qualidade e desprezando o problema. Como exemplo ele cita o único Centro Municipal de Testagem e Aconselhamento, que no momento está fechado para reforma. Angonoa conta que os serviços estaduais vêm melhorando ultimamente, mas faz críticas aos do município. “A Secretaria Municipal de Saúde não ouve as ONG”, afirma.

A Situação em Porto Alegre
Em Porto Alegre, desde a última segunda-feira as pessoas que vivem com Aids estão impossibilitadas de realizar exames de carga viral e de contagem dos linfócitos CD4 e CD8 – fundamentais para a análise do quadro de saúde dos pacientes e indicados, no mínimo, a cada seis meses, segundo orientação da Organização Mundial da Saúde. Na capital gaúcha, os manifestantes pretendem lavar com tinta vermelha a calçada do Laboratório de Saúde Pública (LACEN). Em São Paulo, a manifestação acontecerá a partir do meio-dia nas escadarias do Teatro Municipal.

A Situação na Paraíba
O Fórum de ONG/AIDS da Paraíba vai protestar em frente a Secretaria Estadual de Saúde, em João Pessoa. “Queremos que o Estado use 12% do orçamento para a área da saúde”, comentou a integrante do Fórum, Célia Varela.
Varela afirma que os portadores de HIV/AIDS do Estado sofrem com a falta de medicamentos para doenças oportunistas e com a descentralização do sistema de saúde. “Muitos pacientes soropositivos esperam sentados para serem atendidos, porque não existem leitos suficientes”, contou.

A Situação No Rio de Janeiro
No Estado do Rio de Janeiro, também faltam medicamentos para doenças oportunistas e medição de carga viral. Em Petrópolis, região serrana do Estado, o serviço de Doenças Infecto-Parasitárias do Hospital Municipal, que abriga seis leitos para pacientes de Aids, está em estado deplorável, relata Adriana Paixão Bastos, presidente do SOS Vida.