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O TRATAMENTO DA AIDS

07/10/2004 - Folha de S.Paulo

Coquetéis contra Aids aumentam risco de infarto

Um estudo realizado pelo Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo) e por centros de pesquisa norte-americanos mostram que os coquetéis de medicamentos contra o HIV podem provocar alteração degenerativa da camada íntima das artérias (aterosclerose), aumentando o risco de doenças cardiovasculares (derrames e infartos).
Entre os efeitos dos medicamentos anti-retrovirais --que, combinados, bloqueiam a proliferação do vírus e controlam a evolução da Aids-- estariam alterações metabólicas que causam a diminuição das taxas de HDL (colesterol bom) e o aumento dos níveis de colesterol ruim e de triglicérides (gordura no sangue).
Dados do Programa Nacional de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids, do Ministério da Saúde, mostram que 40% dos pacientes que utilizam a terapia retroviral apresentam efeitos adversos, entre eles o aumento do colesterol ruim e do triglicérides. Não há levantamento, porém, do número de pacientes com doenças cardiovasculares já instaladas.
Segundo o cardiologista e pesquisador da USP Bruno Caramelli, com apenas um ano de uso da medicação já pode ocorrer um espessamento da camada íntima das artérias carótidas. "A epidemia de Aids poderá, em curto espaço de tempo, aumentar a incidência de doenças cardiovasculares", diz Caramelli.

Estilo de vida

Além dos efeitos adversos dos anti-retrovirais --especialmente com os medicamentos do grupo de inibidores de protease--, o pesquisador acredita que a infecção crônica causada pelo HIV e outros hábitos de vida freqüentes entre os portadores do HIV, como o tabagismo e a vida sedentária, contribuam para esse aumento das doenças ateroscleróticas.
Como o coquetel é fundamental para a sobrevivência dos pacientes, Caramelli defende alterações no estilo de vida que podem compensar os efeitos colaterais, como o combate ao tabagismo --56% dos infectados fumam-- e à dislipidemia (alteração nos níveis de lipídios), que atinge 45% deles.
Segundo o infectologista David Uip, da diretoria do Incor, é possível ministrar a pacientes com riscos cardiovasculares outros tipos de remédio --como nucleotídeos e não-nucleosídeos-- que causam menos efeitos aterogênicos.
O médico Ronaldo Hallal, do Programa Nacional de DST e Aids, afirma que os pacientes com HIV já são alertados para os riscos cardiovasculares dos anti-retrovirais e recebem orientações para o controle dos níveis de colesterol e triglicérides.
Até 2003, o Ministério da Saúde havia notificado 310,3 mil casos de Aids no Brasil. Desde 1999, a taxa de mortalidade pela doença se mantém estabilizada no país: 6,3 óbitos por 100 mil habitantes