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DÃVIDAS DOS JOVENS SOBRE A AIDS

01/11/2004 - Folha de São Paulo

Cartas de leitores refletem dúvidas

Em sua edição desta segunda-feira, 1º de novembro, o caderno Folhateen, publicado pela Folha de S.Paulo, traz a carta de um leitor com dúvidas e ansiedade em relação à Aids. O remetente é um rapaz de 20 anos não identificado. Na resposta, o médico Jairo Bouer procura esclarecer as dúvidas e amenizar o quadro de ansiedade que parece afligir o jovem. A leitura da carta reflete o cenário de dúvidas angustiantes que paira sobre grande parte da juventude no Brasil, quando o assunto é HIV e Aids. Leia abaixo a reprodução dos textos:

SEXO E SAÚDE
“Tenho 20 anos e nunca transei com minha namorada. Nos últimos anos, tive algumas relações com garotas de programa. Sempre usei camisinha, mas os preservativos eram fornecidos pelas moças. Tenho medo de ter contraído Aids! Será que elas não podem ter feito um pequeno furo para me contaminar? Trabalho muito, como mal e estou muito magro. Será que isso não é sinal de Aids?”

Medo de Aids assusta jovens
JAIRO BOUER

A sua dúvida é importante para a gente retornar a uma das questões que mais atormentam os jovens hoje em dia, que é o medo de se contaminar com o vírus HIV, causador da Aids. A gente sabe que, apesar dos esforços das campanhas, muita gente acaba vacilando, não se protege em todas as relações e acaba se expondo à doença.
Esse não parece ser o seu caso! Você afirma que nunca transou sem proteção, ou seja, isso já serviria como uma garantia de segurança. A hipótese de a garota furar a camisinha para, intencionalmente, contaminar o cliente parece um pouco fantasiosa. Será que ela não é a grande interessada em assegurar a própria proteção, já que está exposta, diariamente, a relações com desconhecidos?
Nas entrevistas e consultas que fiz até hoje com profissionais do sexo, elas sempre me pareceram bastante conscientes a respeito da importância de se proteger. É lógico que, em situações extremas de miséria, pobreza e sofrimento, esses cuidados podem diminuir, mas não é a regra. É interessante lembrar que, muitas vezes, quem pressiona por sexo sem proteção é o próprio cliente. O que você pode fazer para evitar a insegurança que está vivendo? Em primeiro lugar, fazer o teste do HIV talvez seja uma boa idéia. O serviço público faz esse teste gratuitamente e ainda oferece orientação. Veja o posto mais próximo da sua casa em www.aids.gov.br/fiquesabendo/cta.asp .
Depois, se você planeja continuar tendo relações com profissionais, por que não leva sua própria camisinha? Assim você elimina todos os fantasmas que habitam sua cabeça. E se mesmo assim a camisinha estourar? Aí você procura um médico e discute com ele o que precisa ser feito.
Para terminar, saúde não se resume à questão da Aids. Você precisa se cuidar melhor! Que tal trabalhar um pouco menos, se alimentar melhor e ganhar uns quilinhos para se sentir bem? Magreza não é sinônimo de Aids e, sim, muitas vezes, de falta de cuidado com você mesmo. Vai ainda uma última observação: por que você não começa a vida sexual com sua namorada, em vez de ficar com as garotas de programa? Por que não juntar o afeto e o relacionamento ao sexo e ao prazer? Não seria mais gostoso e você não se sentiria mais seguro e tranqüilo, sempre com camisinha? Pense nisso!

Jairo Bouer, 38, é médico. Se você tem dúvidas sobre saúde, escreva para o Folhateen ou para jbouer@uol.com.br