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PORTADOR DO HIV PODE TER FILHO SAUDÃVEL

01/11/2004 - Agência Estado

Técnica de fertilização assistida

Uma técnica de fertilização assistida permite que homens HIV positivos ou
portadores do vírus da hepatite C tenham filhos saudáveis sem contaminar
suas mulheres. O médico italiano Luca Mencaglia, que coordena o Centro de
Reprodução Humana de Florença, fez estudo com 43 casais. Destes, 22
conseguiram engravidar, e os bebês, aos três meses de vida, não tinham
aids nem hepatite C.
A técnica consiste em preparar o esperma para diminuir ao máximo a
possibilidade de transmissão do vírus, explica a embriologista Patricia
Falcone, que foi assistente de Mencaglia na pesquisa. Patricia e Mencaglia
estão no Brasil para apresentar o estudo hoje, no Hospital Barra D}Or, que
inaugura seu centro de fertilidade.
"É uma técnica muito específica, em que os espermatozóides são
centrifugados, o que permite a eliminação do plasma seminal, rico em
vírus", diz Patricia. A partir daí, os espermatozóides passam por lavagem
e filtragem. Uma amostra do esperma já tratado é testado, para garantir
que esteja livre de vírus.
Numa segunda etapa, os médicos utilizam a técnica de fertilização
assistida chamada de injeção intracitoplasmática do espermatozóide (ICSI),
em que somente um espermatozóide é selecionado e, então, colocado
diretamente no óvulo. "É uma técnica complexa, que existe desde 1992,
usada quando os homens produzem pouquíssimos espermatozóides. Neste caso
(a pesquisa), ela é indicada porque os homens não podem manter relações
sexuais com as parceiras sem proteção, sob risco de contaminá-las", diz a
médica Maria Cecília Erthal, coordenadora do Centro de Fertilidade da Rede DOr, que está capacitado para oferecer a técnica estudada por Mencaglia.
Entre os 43 casais que participaram do estudo, o homem era HIV positivo em 25 deles. Em 10 casais, o marido era portador tanto do HIV quanto do HCV
vírus da hepatite C). E, em oito, o marido tinha apenas o HCV. Os homens
passaram por exames de sangue, espermogramas e avaliação genética. Foram
aceitos aqueles com baixa carga viral. Todas as mulheres também foram
testadas e nenhuma delas tinha HIV nem HCV.
Houve fertilização em 70% dos casos, mas somente 52% mantiveram a gravidez (22 casais). "Esta média de 52% é o que se espera em fertilização
assistida, e não tem a ver com o fato de os homens serem portadores de HIV nem de HCV", disse Maria Cecília.