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VACINAS
E NOVAS TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO - Nº 33
PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - Novembro - 2019

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Boletim Vacinas e Novas Tecnologias de Prevenção Anti-HIV/AIDS - GIV

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PrEP
Quem para de tomar e por quê?
Quem para de tomar a PrEP e por quê?
Gus Cairns • 25 de julho de 2019
Kathleen Ryan, da Universidade Monash
Kathleen Ryan, da Universidade Monash | Foto: Gus Cairns

Vários estudos apresentados na 10ª Conferência da Sociedade Internacional de AIDS sobre Ciência do HIV (IAS 2019), na Cidade do México, analisaram quem interrompeu a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) após iniciá-la, como parte de um projeto de demonstração.

O achado mais consistente foi que os jovens têm dificuldade em manter o uso da PrEP: em todos os estudos apresentados ser jovem foi o preditor mais significativo da descontinuação da PrEP.

Um estudo australiano mostrou que, um tanto preocupantemente, o risco de infecções sexualmente transmíssiveis (IST) era igualmente grande depois de interromperem a PrEP, sugerindo que correm tanto risco de HIV depois de parar a PrEP quanto seria se nunca tivessem começado a PrEP.

O estudo de demonstração PrEPX foi realizado pelo estado de Victoria, na Austrália e criado com alvos específicos em mente: reduzir a incidência de HIV em 25% na população em geral e 30% em homens gay e bissexuais. Foram inscritas 4.275 pessoas entre 26 de julho de 2016 e 31 de março de 2018, que é 14 vezes o número anual de diagnósticos em Victoria. Estes diagnósticos já haviam caído antes do início do PrEPX - o maior número de pessoas que recebem PrEP em relação ao diagnóstico de HIV em qualquer parte do mundo. Eles receberam 16.689 prescrições trimestrais de PrEP - uma média de 3,9 por pessoa.

O estudo analisou as 3.489 pessoas que se inscreveram antes de outubro de 2017. Alguns dados, como comportamento sexual de risco, vieram apenas de 2.900 pessoas que frequentavam clínicas de estudo que também estavam no Programa de Colaboração Australiana para Vigilância Sentinela Aprimorada Coordenada (ACCESS).

A média de idade das pessoas que iniciaram a PrEP no PrEPX foi de 34 anos, dos quais 25% com menos de 29 anos. Quase todos eram homens cisgênero gay ou bissexuais, além de 39 mulheres transexuais (1,1%). Um quarto dos participantes havia tomado PrEP antes, muitos no estudo piloto Vic-PrEP. Quase 3/4 (73%) fizeram sexo anal sem preservativo nos 3 meses anteriores à inscrição, 13% usaram metanfetamina e 5% injetaram drogas.

Durante o período do estudo, apenas 85 pessoas (2,4%) se retiraram oficialmente do estudo, mas 877 pessoas interromperam a participação sem aviso prévio (25%). A definição de descontinuação foi uma lacuna entre a última prescrição da PrEP e qualquer prescrição subsequente ou o final do estudo de mais de 210 dias. Dos 877, 275 (31%, ou 7,8% de todos os participantes) nunca retornaram após a primeira prescrição.

As pessoas que interromperam o tratamento podiam reiniciar e, de fato, 197 pessoas - 22% das que descontinuaram e 5,5% de todos os participantes - reiniciaram a PrEP.

Certos grupos de pessoas tinham maior probabilidade de descontinuar a PrEP. Como observado acima, os jovens foram especialmente propensos a interromper, com pessoas com menos de 29 anos sendo 75% mais propensos a interromper do que aqueles com mais de 40 anos. As pessoas que relataram uso de drogas injetáveis foram 64% mais propensas a interromper e as pessoas que relataram o uso de metanfetamina foram 34% mais prováveis. As pessoas que foram encaminhadas para a PrEP pelo seu médico tiveram uma probabilidade 27% maior de interromper o tratamento do que as pessoas que foram à clínica pedindo a PrEP.

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As pessoas que consistentemente usavam preservativos com parceiros casuais (neste caso, apenas os participantes das clínicas participantes do ACCESS) tinham 52% mais probabilidade de descontinuar a PrEP do que outras.

A descontinuação da PrEP não levou a abandonar os serviços de saúde sexual. Das 743 pessoas das clínicas ACCESS que descontinuaram, 440 fizeram o teste de HIV (59% das que interromperam a PrEP) e, dessas, 158 (34% que fizeram o teste de HIV) reiniciaram a PrEP, o que significa que 80% dos reiniciantes voltaram depois de fazer um teste de HIV.

Houve dez diagnósticos de HIV entre as pessoas que interromperam a PrEP, o equivalente a uma incidência anual de 2,3%.

Houve dez diagnósticos de HIV entre as pessoas que interromperam a PrEP, o equivalente a uma incidência anual de 2,3%.

Destes, duas pessoas foram diagnosticadas após a segunda visita e podem ter tido uma infecção aguda pelo HIV quando entraram no estudo. Quatro outras pessoas nunca voltaram depois de receber sua primeira receita. Dos outros quatro, dois tinham duas prescrições de PrEP (uma descontinuada e depois recomeçada) e dois tinham três, mas todas foram diagnosticadas bem depois que a última receita expirou - uma média de 6,5 meses ou 199 dias depois.

Os diagnósticos de IST foram tão comuns para as pessoas que interromperam a PrEP quanto para as pessoas que continuaram tomando o remédio. Houve diagnósticos de gonorreia em 7,6% dos que permaneceram na PrEP e 8,2% dos que pararam. No caso da clamídia, os valores foram de 7,8% e 8,4%, respectivamente, e para sífilis, 1,6% e 2,6%.

Embora isso pareça mostrar que tomar a PrEP não leva por si só a um aumento do risco de IST (ou melhor, que parar não leva a uma queda nesse risco), também implica que o risco de HIV comportamental para as pessoas que descontinuam a PrEP não é menor do que em pessoas que permanecem nela e que, ao interromperem, estão retornando ao mesmo grau de risco que tinham antes de iniciar a PrEP.

A Dra. Kathleen Ryan, da Monash University, que apresentou o estudo, disse que uma preocupação foi que o “risco percebido das pessoas pudesse ser menor do que o risco real”. Entre as sugestões para melhorar a taxa de desistência, estavam:

  1. educar as pessoas sobre como usar a PrEP intermitente se o risco também fosse intermitente;
  2. informar melhor as pessoas sobre os efeitos colaterais agudos que podem ser encontrados no primeiro mês na PrEP; e
  3. fornecer mais apoio, incluindo apoio financeiro para chegar às clínicas.

BAIXA TAXA DE DESCONTINUAÇÕES DA PREP NO BRASIL

Outra apresentação examinou os riscos de descontinuação entre as pessoas que participam do programa nacional de PrEP do Brasil. Desde janeiro de 2018, 6.079 pessoas se inscreveram no programa nacional. Destes, 5.388 participaram de consultas de acompanhamento e 691 pessoas (11,4%) não compareceram - uma baixa taxa de abandono em comparação com alguns outros programas.

Algumas pessoas foram mais propensas a descontinuar do que outras. Como no estudo australiano, os jovens (neste caso 18-24) tinham probabilidade duas vezes maior de interromper a PrEP do que os de 30 anos. As mulheres cisgênero mostraram mais do que o dobro da probabilidade de parar do que homens gay e bissexuais cisgênero. Os sem-teto também correram o dobro do risco de descontinuação.

Entre outros grupos mais propensos a interromper a PrEP estavam pessoas no Norte do Brasil, esparsamente povoado, profissionais do sexo e pessoas referenciadas à PrEP por seus médicos, em vez daqueles que a procuraram - como no estudo australiano. As pessoas que já haviam tomado PrEP antes eram 30% menos propensas a descontinuar.

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