BOLETIM
VACINAS
ANTI HIV/AIDS - NÚMERO 34
PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - Junho - 2021

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Cura
‘Paciente de Buenos Aires’ controla HIV sem tratamento
A ‘Paciente de Buenos Aires’: Argentina controla HIV por pelo menos 12 anos após interromper tratamento
Keith Alcorn • aidsmap.com • 3 de fevereiro de 2021
HIV

Uma mulher argentina, agora na casa dos 50 anos, controlou o HIV abaixo dos limites de detecção desde que interrompeu o tratamento do HIV devido a efeitos colaterais em 2007, relataram pesquisadores de Buenos Aires e dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

A mulher não tem mais anticorpos para o HIV e os pesquisadores encontraram apenas um pequeno número de células contendo DNA do HIV quando fizeram testes intensivos, em 2015 e 2017. Os pesquisadores não dizem que a mulher está curada, mas que mesmo entre pessoas que controlaram o vírus após interromperem o tratamento para o HIV, este caso é único.

Detalhes parciais deste caso de remissão do HIV foram apresentados em um simpósio, em 2017; detalhes mais completos foram publicados na revista científica Open Forum Infectious Diseases.

A costureira portenha foi diagnosticada com HIV em 1996, aos 37 anos, após ser internada no hospital depois de cinco semanas de visão turva, fraqueza do lado esquerdo, perda de peso e febre. Ela testou positivo para toxoplasmose, bem como para HIV. Foi tratada para toxoplasmose, iniciou um esquema antirretroviral de zidovudina, didanosina e nevirapina (AZT, DDI e NVP) e posteriormente teve alta hospitalar.

A partir de 1998, ela apresentou carga viral abaixo de 50 cópias, exceto por um pequeno pico, em 2001. Ela mudou de tratamento várias vezes devido a dificuldades de adesão e perda de gordura.

A mulher interrompeu o tratamento para o HIV devido ao agravamento da lipodistrofia em 2007. Ela tinha uma carga viral indetectável quando interrompeu o tratamento e não experimentou nenhum rebote viral desde então. Sua última medição de carga viral indetectável foi relatada em fevereiro de 2020. Sua contagem de células CD4 permaneceu estável, acima de 500 células.

Os médicos decidiram investigar mais, após dois testes negativos de anticorpos e um DNA de HIV negativo sugerir que o vírus não estava apenas indetectável, mas podia ter sido eliminado.

Em 2013, os médicos decidiram investigar mais, após dois testes negativos de anticorpos e um DNA de HIV negativo sugerirem que o vírus não estava apenas indetectável, mas podia ter sido eliminado.

Tecido linfoide (ou reticular): um tipo especial de tecido conjuntivo rico em células de defesa, como linfócitos, plasmócitos e macrófagos.

Costureira, a paciente de Buenos Aires e a possível cura funcional do HIV/Aids
Gpointstudio - Freepik.com

Em 2015, e novamente em 2017, a mulher visitou os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, para se submeter a investigações clínicas. Os pesquisadores realizaram exames de sangue e amostras de tecido linfoide do intestino e de outros gânglios linfáticos, bem como do líquido cefalorraquidiano. Eles compararam seus resultados com amostras de um grupo de controle HIV negativo e pessoas com infecção crônica pelo HIV.

Eles encontraram:

  1. O RNA do HIV (carga viral) no plasma estava abaixo de 0,2 cópias/ml (o limite de detecção no teste mais sensível disponível) e não foi detectado em nenhuma amostra de tecido linfoide. Em pessoas com infecção crônica ou não progressores de longo prazo, o vírus seria detectável.
  2. Nenhum DNA do HIV foi detectado no tecido do cólon ou nas células mononucleares do sangue, mas foi detectado em um nível muito baixo em linfonodo.
  3. O HIV competente para replicação foi detectado em um nível “profundamente pequeno” nas células T CD4.
  4. Nenhum anticorpo para HIV foi detectado.
  5. As respostas de células T CD8 + específicas para HIV que indicariam a presença do vírus foram fracas, mas as respostas de células T CD4 + específicas para HIV foram maiores do que nos controles HIV-negativos.

Para confirmar que seu diagnóstico de HIV em 1996 não tinha sido um diagnóstico falso-positivo, os pesquisadores também examinaram uma amostra armazenada de tecido cerebral obtida por biópsia em 1996 para ajudar a diagnosticar a condição neurológica da mulher. Esta amostra continha DNA de HIV, embora nenhum RNA de HIV, e confirma que a mulher tinha infecção por HIV em 1996. Além disso, o padrão de substância branca do cérebro mostrado em exames de ressonância magnética era consistente com uma história de encefalopatia por HIV (demência relacionada ao vírus). Os exames físicos não mostraram evidências de demência e a mulher continuou trabalhando em tempo integral como costureira.

Os exames físicos não mostraram evidências de demência e a mulher continuou trabalhando em tempo integral como costureira.

Os pesquisadores dizem que este caso é “extremamente único”. Além de ser um dos exemplos mais longos de controle do HIV pós-tratamento totalmente documentado, a perda de anticorpos (sororreversão) é altamente incomum. O ‘Paciente de Berlim’– uma das duas pessoas curadas do HIV após serem submetidas a um transplante de medula óssea – reteve os anticorpos do HIV após a cura. Os pesquisadores dizem que a perda de anticorpos é provavelmente uma consequência de um período prolongado de convivência com níveis “notavelmente baixos” de antígeno HIV.

As respostas muito fracas das células CD8 específicas para o HIV – as chamadas ‘células T assassinas’, que eliminam as células infectadas com vírus – também são altamente incomuns em um controlador de HIV espontâneo ou pós-tratamento, dizem os pesquisadores.

A existência de controladores pós-tratamento foi anunciada pela primeira vez em 2013, quando pesquisadores franceses relataram a coorte VISCONTI. (Ver “Dados Mais Novos sobre a Pesquisa de Cura”, Boletim Vacinas 27).

A aidsmap.com, o Dr. Asier Saez-Cirion, investigador principal da coorte VISCONTI, disse que “cada controlador pós-tratamento é único. Este caso de Buenos Aires é interessante devido à avaliação clínica, imunológica e virológica muito completa”.

“Até agora identificamos 27 controladores pós-tratamento no estudo VISCONTI (ver Boletim Vacinas 27). O tempo médio sem TAR é agora de 10,5 anos e temos alguns casos que mantiveram a remissão pós-tratamento por mais de 20 anos. Também observamos diferentes graus de perda de anticorpos para o HIV em alguns.

“Temos alguns casos que mantiveram a remissão pós-tratamento por mais de 20 anos.”

“Podemos aprender muito com esses casos. Acredito que eles oferecem esperança de que a remissão possa ser alcançada, mesmo partindo de um contexto clínico bastante negativo.”

Por sua vez, os pesquisadores de Buenos Aires concluem: “Este caso pode representar o melhor exemplo de cura funcional pós-tratamento e... oferece esperança de uma remissão durável sem a necessidade de intervenções excessivamente tóxicas”.

Mas, apesar da conclusão otimista, ninguém sabe explicar como o HIV foi controlado desde que a ‘Paciente de Buenos Aires’ interrompeu o tratamento, em 2007.

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