VACINAS EM DESENVOLVIMENTO
Mundial Sobre a Aids

Dossiê Vacinas - Número 01 - Abril de 1992
Michelle Roland

Atualmente existem 13 vacinas que estão em alguma fase de experimentação, incluindo 6 que estão sendo utilizadas em voluntários HIV-positivos na tentativa estimular uma resposta eficaz contra o vírus.
A seguir serão expostos os principais métodos utilizados na produção de vacinas. O vírus inteiro pode ser inativado ou morto (whole killed virus approach), como é caso da SALK HIV. Alternativamente, pequenos fragmentos do vírus, incluindo partes do envelope ou porções das proteínas do núcleo, podem ser utilizados para a produção de vacinas através de sofisticados métodos tecnológicos da engenharia genética. Estas são denominadas subunit vaccines. Um outro approach, utilizando proptídeos sintéticos, também está sendo testado (um peptídeo é simplesmente uma pequena parte de uma proteína viral). Finalmente, alguns pesquisadores estão testando a inserção do gene de uma ou mais destas proteínas dentro de diferentes micróbios (vírus, bactérias, fungos, etc.), os quais produziriam, então, a proteína. Tais microorganismos ou “vetores”, ao serem injetados numa pessoa, induziriam à formação de proteínas do HIV, as quais foram geneticamente programadas a produzir através do processo anterior-approach denominado recombinant vector vaccine. Combinações destes diferentes métodos de produção de vacinas também estão sendo testadas.

Pelo menos 5 vacinas estão sendo testadas individualmente ou em combinação nos EUA:
1. MycroGeneSys está pesquisando uma subunit vaccine da gp160 chamada VaxSyn (gp160 é uma proteína encontrada no envelopedo HIV);
2. MicroGeneSys também produziu uma subunit vaccine do p24 (p24 é uma das proteínas do núcleo do HIV);
3. Bristol-Meyers Squibb tem uma recombinant vaccine do gp 160;
4. Viral Technologies está testando o HGP-30, um fragmento do peptídeo sintético p17, uma das proteínas do núcleo do HIV;
5. a vacina com vírus inativado desenvolvida por Jonas Salk está também sendo testada em seres humanos. No entanto, nenhuma informação a respeito foi apresentada na última conferência.

AIDS Vaccine Evaluation Units (AVEUs)

Um grupo formado por 5 universidades norte-americanas – John Hopkins, Rochester, Saint Louis, Washington e Vanderbilt Universities – vem testando vacinas apenas em voluntários HIV-negativos, procurando acessar o grau de segurança e da resposta imunológica.
Fora dos EUA, as companhias Chiron e Ciba Geigy estão desenvolvendo conjuntamente a vacina gp120 (outra proteína do envelope viral). Daniel Zagury, cientista francês da Universidade de Paris, está usando uma combinação que inclui alguns dos produtos anteriormente citados, adicionada de glóbulos brancos e produtos destas células inativados, na tentativa de restaurar a função imunológica em pessoas com infecção pelo HIV. (ZAGURI experiment with recombinant vaccinia HIV-env + autologus vaccinia HIV-env infected cells + recombinant gp160)

Subunit Vaccine VaxSyn

Um recent estudo publicado pelo Walter Reed Army Institute of Research, utilizando VaxSyn em 30 voluntários HIV-positivos com contagem de T4 maior que 400, recebeu bastante atenção da mídia norte-americana durante a semana da Conferencia em Florença.
Uma avaliação da fase 1 mostrou que a vacina era segura e havia provocado uma resposta imunológica em 19 dos 30 voluntários. Naqueles que apresentaram uma resposta imunológica observou-se um aumento na contagem de células T4 no início do estudo; a maioria destas pessoas faziam parte de grupo que recebia 6 injeções ao invés de 3. A contagem da células T4 permaneceu estável por mais de 10 meses nas 19 pessoas que responderam à vacinação, porém diminuiu aproximadamente 7% no grupo que não apresentou qualquer modificação, sugerindo que a resposta imunológica à vacina pudesse ter algum efeito protetor.
Outro estudo realizado com 20 pacientes em Montreal, os quais receberam apenas 2 doses, foi apresentado na Conferência. Dos 9 pacientes que foram acompanhados por mais de 180 dias, 8 apresentaram um aumento da resposta humoral (aumento de anticorpos). Em adição, a contagem de T4 permaneceu estável acima dos valores anteriores, e o HIV não conseguiu ser cultivado a partir de amostras sanguíneas destes pacientes.
VaxSyn também foi estudado em voluntários HIV-negativos, bem como combinada a outras vacinas.

Combinação de Duas Subunit Vaccines VaxSyn + p24

Gary Blick, médico em Greenwich, Connecticut, apresentou os registros de dois experimentos realizados com o gp160 (VaxSyn) em combinação com a recombinant vaccine p24. O primeiro estudo contava com 25 pacientes, incluindo 16 assintomáticos e 9 com AIDS ou infecção pelo HIV sintomática. Constatou-se que as duas vacinas eram seguras e bem toleradas. Os níveis de anticorpos p24 aumentaram e análises da resposta com relação ao gp160 ainda eram incompletas. Após 5 meses, a maioria dos pacientes com contagem de T4 superior a 200 apresentaram um pequeno, porém estatisticamente significativo, aumento da contagem das células T-auxiliares e outras medições das células T. Não observou-se qualquer aumento significativo nos pacientes que apresentavam contagens de T4 inferiores a 200 no início do experimento. A segunda pesquisa do Dr. Blick teve início em maio de 1991, na qual todos os voluntários recebem gp160, porém somente metade deles foram randomicamente eleitos para receber a vacina p24 em adição, enquanto a outra metade receberia placebo. O intuito deste experimento era verificar se a adição do p24 aumentaria a eficácia. Outra modificação realizada dizia respeito ao método de administração desta vacina – aplicaram injeções intramusculares ao invés da via intradérmica normalmente utilizada. É possível que a vacina venha a produzir uma resposta imunológica mais eficiente se aplicada diretamente abaixo da pele, onde um maior número de células imunológicas estão localizadas.
Estes três estudos utilizando VaxSyn sugerem que esta vacina, seja quando administrada isoladamente ou em combinação com p24, realmente desencadeia uma resposta imunológica. Existem também certos estudos preliminares sugerindo que alguns benefícios clínicos podem ser observados em indivíduos com contagens relativamente mais altas de T4. Nenhum deles, no entanto, provou ser eficaz no sentido de aumentar a sobrevida ou de manter saudável por mais tempo as pessoas com infecção pelo HIV.
Mais pesquisas e em maior escala são necessárias para determinar se VaxSyn pode auxiliar clinicamente. Também é importante saber como utilizá-la em combinação com outras vacinas, em combinação com drogas antivirais e/ou imunomoduladoras, bem como quando deve ser administrada por diferentes vias, em diferentes dosagens, com diferentes freqüências, etc. Nenhum destes estudos pode responder, até o momento, tais questões; eles mostram, no entanto, a importância em se desenvolver mais pesquisas nesta área.

Recombinant Vector Vaccine Seguida porr Subunit Vaccine HIVAC-le, depois VaxSyn

Dois estudos, um realizado em macacos e outro em pessoas HIV-negativas, demonstraram que a técnica de utilizar dois diferentes tipos de vacinas desencadeava uma resposta imunológica mais ampla e potencialmente mais eficaz que a utilização de somente um approach. Dr. Barney Graham, Ph.D, da Vanderbilt University’s AVEU, registrou num pequeno estudo no qual vacinava inicialmente com um recombinant gp160 vaccinia virus vector denominado HIVAC-le – Oncogen/Bristol-Meyers Squibb – seguido, vários meses mais tarde, pela imunização via oral com VaxSyn. De acordo com o autor, esta contaminação teria produzido uma resposta imunológica mais eficaz e duradoura se comparada ao uso isolado de qualquer destas vacinas. Além disso, uma grande proporção dos que foram imunizados com as duas vacinas produziram anticorpos neutralizadores, os quais parecem ser eficazes contra o HIV.
O Dr. Bolognesi apontou que, apesar das pesquisas realizadas pelo Dr. Graham terem demonstrado uma notável resposta imunológica em voluntários HIV-negativos, a aplicação da vaccinia virus vector poderia não ser segura em HIV-soropositivos. Portanto, o desenvolvimento de vetores alternativos é crucial para tornar a aplicação deste método mais segura em pessoas já infectadas pelo HIV. Ele também descreveu algumas pesquisas em andamento com relação a vários vetores alternativos, e colocou que uma combinação de vetores e uma combinação de subunidades iria provavelmente ser bem mais eficiente.

Combinação de Vacinas na França

Dr. Daniel Zagury, um pesquisador francês, discutiu os resultados de sua pesquisa com 6 indivíduos HIV-positivos durante a Conferência em Florença. A estratégia combina uma série de diferentes elementos os quais o Dr. Zagury denominou “regime de imunização anti-citostático”. Embora ele afirmasse que os pacientes envolvidos na pesquisa apresentaram ou uma estabilização do quadro ou um aumento da contagem de T4 e do peso corporal, além de outros sinais clínicos que sugerissem uma melhora da função imunológica, as críticas levantadas durante as conferências com relação ao seu programa procediam. Os pesquisadores estavam preocupados com o fato do Dr. Zagury haver testado uma combinação de compostos antes testar cada um deles individualmente, tornando impossível determinar qual ou quais compostos eram na realidade eficazes. E mais, ele foi criticado por não utilizar um grupo controle a fim de verificar se havia alguma diferença entre os pacientes tratados e os não tratados.
Embora algumas questões relevantes quanto à metodologia da pesquisa tivessem sido levantadas, é possível que grande parte das críticas sejam decorrentes de uma hostilidade histórica que vários cientistas presentes na Conferência parecem ter desenvolvido com relação ao autor. De qualquer maneira, a combinação de peptídeos do HIV, pseudovirions do HIV, alfa-interferon inativado e supressores das células T inativados, uma combinação que o Dr. Zagury formulou baseado numa nova teoria da função e disfunção imunológica provocada em conseqüência da infecção pelo HIV, é intrigante. Os resultados sugerem que este approach merece ser seriamente considerado.

A presença de substâncias ou organismos estranhos induz a ação dos macrófagos que, por sua vez, estimulam as células T4, através da apresentação do antígeno e do fator solúvel interleucina 1. Os linfócitos T4 produzem interleucina 2 que, assim como o interferon, ativa diversos mecanismos em defesa do organismo. No paciente com AIDS, a destruição dos linfócitos T4 causa importantes disfunções em todos os processos representados pelas setas pontilhadas, impedindo assim a ação efetiva do sistema.

Conclusão

Além das pesquisas em seres humanos acima mencionadas, outros registros de progresso no design de novas e melhoradas versões mostram sinais de esperança de que em breve serão desenvolvidas vacinas seguras e eficazes. Tais estudos podem conduzir ao desenvolvimento de uma adicional ferramenta para o tratamento da infecção pelo HIV. Para que estes objetivos sejam alcançados, é muito importante considerar o financiamento disponível para tais pesquisas e a necessidade de uma cooperação científica internacional e política.

Texto traduzido de Aids Treatment News, julho de 1991, por Telma Cavalheiro


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