VACINAÇÃO PARA DOENÇAS IMUNOPREVENÍVEIS EM PACIENTES INFECTADOS
PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (HIV)

Enf. Marina Maeda Teixeira dos Santos, Dra. Marta de Oliveira Ramalho
Revisão: Dra. Helena Keico Sato e Ângela Tayra

Introdução

Os avanços nas pesquisas de vacinas que previnam a aquisição do vírus da Aids por indivíduos não infectados tem sido amplamente divulgados e comemorados. O advento de uma vacina contra a Aids será de imenso valor na preservação da vida no mundo inteiro e, mais especialmente, em locais de alta endemicidade da doença. Entretanto, para indivíduos já infectados e que necessitam enfrentar os diversos “desafios” que a vida lhes impõe, a prevenção do adoecimento é de importância vital. Diversas são as vacinas e demais imunobiológicos que devem ser aplicados em pacientes infectados pelo HIV, visando a prevenção da aquisição de doenças evitáveis. É de fundamental importância que se considere que estas enfermidades podem ser mais graves nestes indivíduos do que na população geral, cursando com maior número de complicações e mesmo com desfecho letal. Por outro lado, alguns imunobiológicos são contra-indicados nos pacientes com Aids por conterem microorganismos vivos e a resposta no paciente com imunossupressão estabelecida pode ser parcial ou totalmente inadequada.

Os esquemas vacinais

A vacinação de crianças infectadas pelo HIV deverá obedecer, em determinadas circunstâncias, à classificação clínica e imunológica das mesmas, conforme exposto nos quadros 1 e 2.

Quadro 1 – Classificação da infecção pelo HIV na criança (menores de 13 anos)


Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.


Quadro 2 - Classificação conforme alteração imunológica e sinais/ sintomas clínicos


Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.

O esquema vacinal para indivíduos menores que 13 anos de idade, conforme recomendado pelo Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Ministério da Saúde/ Secretaria de Vigilância em Saúde/ Departamento de Vigilância Epidemiológica/ Programa Nacional de Imunizações) de 2006 está exposto no quadro 3. Deve-se ter em conta o conceito de criança exposta (criança nascida de mãe HIV positiva no período que antecede a definição diagnóstica devido à presença de anticorpos maternos circulantes da classe IgG anti-HIV). Estas crianças devem receber o mesmo esquema da tabela abaixo até definição do diagnóstico.


Quadro 3 - ESQUEMA DE VACINAÇÃO PARA CRIANÇAS MENORES QUE 13 ANOS
INFECTADAS OU EXPOSTAS AO HIV/ AIDS



Fonte: Modificado de Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.

Descrição das Vacinas e Esquemas Vacinais para Crianças

1. BCG ID. Deve-se administrar ao nascimento ou o mais precocemente possível. Para as crianças que chegam aos serviços ainda não vacinadas, a vacina só deve ser indicada para crianças assintomáticas e sem imunodepressão (N1). Não se indica a revacinação.

2. Vacina contra hepatite B. Iniciar ao nascimento, preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida. Se a mãe for AgHBs positiva, aplicar simultaneamente, em outro local, a imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB). O esquema deve ser de 0, 1 e 6 meses, com dose habitual (10 mcg). Se a criança tiver confirmado o diagnóstico de infecção pelo HIV, aplicar a quarta dose entre 6 e 12 meses após a terceira dose (dose dobrada). Recomenda-se a realização de sorologia um mês após o término do esquema.
3. Vacina contra poliomielite. Deve-se dar preferência para vacina inativada (VIP), 3 doses com intervalo de dois meses, iniciando aos dois meses de idade, com reforços aos 15 meses e entre 4 e 5 anos de idade. As doses da série primária podem ser feitas com a vacina oral atenuada (VOP), no esquema de 3 doses no 1º ano de vida e 4ª dose aos 15 meses, caso não esteja disponível a vacina inativada. Em crianças maiores ou naquelas que apresentem sinais de imunodeficiência deve-se usar a vacina inativada (VIP), completando-se cinco doses. A criança que convive com pessoa imunodeprimida deve receber a vacina inativada. No Brasil, não se indica rotineiramente vacina oral ou inativada contra poliomielite após os cinco anos de idade.

4. DTP/Hib. Vacina combinada celular contra coqueluche, difteria, tétano e Haemophilus influenzae b conjugada (Tetravalente), aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade.

5. Vacina contra varicela. Deve ser aplicada em crianças nas categorias N1 e A1 (v. quadro 02).

6. Vacina contra Haemophilus influenzae do tipo b (Hib). Em maiores de 12 meses e menores de 19 anos, nunca vacinados, aplicar duas doses, com intervalo de 2 meses.

7. Vacina contra influenza inativada. Deve ser aplicada a partir dos seis meses de idade e repetida em dose única anual, levando em conta a sazonalidade da infeção. Utiliza-se meia dose (0,25 mL) até 35 meses de idade e, após esta idade, 0,5 mL.. As crianças com menos de nove anos de idade, ao receberem a vacina pela primeira vez, requerem duas doses com intervalo de quatro a seis semanas. Observar orientação anual do Ministério da Saúde para o uso desta vacina.

8. Vacina conjugada contra o pneumococo 7 valente (Pnc 7) ou 23 valente (Pn 23). Esta última pode ser aplicada em crianças acima de dois anos de idade, conforme esquema específico estabelecido pelo Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (2006). A vacina conjugada 7-valente, nos CRIES está indicada até 5 anos de idade.

9. Vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) (SCR). Não deve ser aplicada em crianças com sintomatologia grave (categoria clínica C) ou imunodepressão grave (categoria imunológica 3). Para as demais categorias, se já recebidas duas doses, não há necessidade de doses adicionais.

10. Vacina contra hepatite A. Indicada a partir de 12 meses de idade, em duas doses, com intervalo entre seis e doze meses. Algumas apresentações comerciais só estão recomendadas pelos laboratórios produtores a partir dos 2 anos. Consultar a bula.

11. Vacina oral de rotavírus humano (VORH). A primeira dose deve ser aplicada entre 1 mês e 15 dias a 3 meses e 7 dias de idade e a segunda entre 3 meses e 7 dias a 5 meses e 15 dias. Após esta idade não deve mais ser aplicada por não haver estudos concluídos. As crianças expostas verticalmente ao HIV e as infectadas assintomáticas e sem imunossupressão podem receber a vacina, bem como as crianças que convivem com imunodeprimidos.

12. Vacina conjugada contra o meningococo C (MncC). Para crianças maiores de 12 meses de idade e não vacinadas anteriormente, recomenda-se dose única.

A vacinação contra febre amarela deve ser considerada para algumas crianças infectadas pelo HIV que habitem locais de circulação do vírus ou que irão viajar para tais regiões. Como a vacina contra febre amarela é composta por vírus vivos atenuados, a decisão de se vacinar ou não a criança irá depender da avaliação do risco da região geográfica e do status imunológico do indivíduo (quadro 4).

Quadro 4 - Recomendações para vacinação contra Febre Amarela em crianças com menos de 13 anos de idade infectadas pelo HIV, de acordo com status imunológico e regiões de risco.


Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde.Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.

Apesar do Programa Nacional de Imunizações (PNI) ter voltado sua atenção inicial e prioritariamente à vacinação de crianças, observa-se, nos últimos anos, uma ampliação das ações, de forma a atingir também indivíduos adultos e, em especial, populações de imunodeprimidos.
No Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico de Aids e DST de novembro de 2006, existiam 433.067 indíviduos com Aids até junho de 2006, sendo que destes, 16.071 eram casos de crianças menores de 13 anos. Verifica-se, assim, que a maior parte dos indivíduos com Aids a serem vacinados é de adultos, muitos dos quais com deficiências imunológicas. Estas imunodeficiências, que podem ser transitórias e recorrentes (a depender do uso adequado de anti-retrovirais, de algumas co-infecções específicas, da resistência do HIV aos anti-retrovirais etc.), podem predispor o indivíduo a diversas doenças, incluindo algumas das imunopreveníveis. Além disso, a resposta dos indivíduos com imunodeficiência às vacinações pode ser sub-ótima, levando à necessidade de esquemas especiais, em determinadas circunstâncias. O quadro 5 traz o esquema vacinal proposto para indivíduos infectados pelo HIV com 13 anos ou mais de idade.


Quadro 5 - ESQUEMA DE VACINAÇÃO PARA ADOLESCENTES COM 13 ANOS OU MAIS E ADULTOS INFECTADOS PELO HIV (sem comprovação de vacinação anterior)


Fonte: Modificado de Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.

IMPORTANTE: caso a pessoa apresente documentação com esquema de vacinação incompleto, é suficiente completar o esquema já iniciado.

Vacinas e Esquemas:
1Hepatite A - Aplicar 2 doses com intervalo de 6 meses nos portadores de vírus de hepatite B e/ ou C ou nos hepatopatas crônicos.
2SCR (sarampo, caxumba e rubéola) - Aplicar conforme quadro 06. Contra-indicada em gestantes.
3VZ (vacina anti-varicela zoster) - Não há dados que respaldem seu uso de rotina em adultos e adolescentes HIV+ suscetíveis a varicela. Avaliar risco/ benefício individual conforme situação imunológica e, se necessário, aplicar conforme quadro 6. Contra-indicada em gestantes.
4FA (vacina contra febre amarela) - Avaliar risco/ benefício individual conforme situação imunológica e epidemiológica da região e, se necessário, aplicar conforme quadro 7. Contra-indicada em gestantes.
Hib (vacina contra Haemophilus influenzae do tipo b) - 2 doses com intervalo de 2 meses nos menores de 19 anos não vacinados.
Pn23 (vacina anti-pneumocócica) – 1 dose com reforço único após 5 anos, independente da idade.
Hepatite B - 4 doses, aos 0, 1, 2, 6 a 12 meses com o dobro da dose.
Influenza - Aplicar anualmente, de acordo com as indicações do Ministério da Saúde.
Dupla tipo Adulto - 3 doses (0, 2, 6 meses) e reforço a cada 10 anos; gestantes devem seguir o calendário habitual.


Quadro 6 - Parâmetros imunológicos para tomada de decisão em imunizações com vacinas de bactérias ou vírus vivos em pacientes HIV + com mais de 13 anos de idade.


Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.


Quadro 7 - Recomendações para vacinação contra Febre Amarela em adultos e crianças com 13 anos ou mais de idade infectados pelo HIV, de acordo com o número de linfócitos T CD4+ e regiões de risco.


Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde.Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002.


CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS DE CADA VACINA


Vacina contra a tuberculose – BCG intradérmico (BCG-ID)

A vacina BCG (bacilo de Calmette e Guerin) tem a finalidade de prevenir as formas graves da tuberculose (miliar e meníngea). É administrada em crianças menores de cinco anos, inclusive em portadoras do HIV (assintomáticas e sem imunodepressão) e filhos de mães soropositivas para o HIV. Deve ser aplicada o mais precocemente possível, preferencialmente ainda na maternidade. A vacinação com BCG não é recomendada para adultos infectados pelo HIV ou pessoas com doença sintomática.
A vacina é derivada de uma cepa atenuada de Mycobacterium bovis e é aplicada por via intradérmica na região do músculo deltóide do braço direito.
Entre os eventos adversos mais freqüentes relacionados à aplicação da vacina estão as reações no local da aplicação e a linfadenite regional (até 17,6% dos vacinados). A incidência de doença disseminada causada pelo BCG é de 0,19 a 1,56 casos por milhão de doses aplicadas. A incidência de eventos adversos é centenas de vezes maior entre os indivíduos imunocomprometidos.

VACINA TETRAVALENTE (DTP + Hib)

A vacina DTP-Hib é uma associação da vacina DTP (tríplice bacteriana) e da vacina contra Haemophilus influenza tipo B. A vacina protege contra a difteria, o tétano, a coqueluche e outras doenças causadas pela bactéria Haemophilus influenza tipo B, tais como meningite bacteriana, pneumonia, otite, artrite e septicemias. A apresentação, na forma de vacina tetravalente, reduz o número de aplicações injetáveis em crianças menores de um ano.
A vacina deve ser administrada em 03 doses, com intervalo de 60 dias entre as doses. Aos 15 meses, habitualmente é feito reforço somente com a DTP. Para crianças soropositivas, nesta idade é indicada a administração da associação DTP+Hib, segundo o Manual dos CRIE de 2006.
A vacina é composta por toxóides, bactérias inativadas e fragmentos de bactérias, podendo ser administrada em imunodeprimidos sem maiores sobressaltos. Não deve ser aplicada em indivíduos acima de sete anos de idade.
Os eventos adversos mais freqüentes são febre; hiperemia, calor, endurecimento e edema no local da injeção; sonolência; anorexia; vômito. Eventos adversos mais graves como convulsões (dentro de 72 horas após a aplicação da vacina), episódio hipotônico hiporresponsivo (dentro de 48 horas da vacinação) ou encefalopatia aguda grave são mais raros e levam à substituição da vacina DPT pela formulação acelular da mesma.


Vacina contra Haemophilus influenzae b (Hib)

A vacina contra Haemophilus influenza tipo B é utilizada na rede pública desde a década de 90 e consta do calendário oficial de vacinação para todas as crianças a partir de dois meses de idade. Além disso, é indicada para alguns outros grupos de pacientes imunodeprimidos, entre os quais se encontram crianças e adolescentes (até 19 anos) com HIV/ Aids. Estes pacientes, se não tiverem sido vacinados no primeiro ano de vida, deverão receber duas doses da vacina, com intervalo de dois meses entre as mesmas. Crianças com doenças crônicas associadas a aumento de risco de infecção (p.e., pacientes com HIV/ Aids) pelo Haemophilus influenzae tipo b podem ter resposta inadequada à vacinação.
A vacina confere proteção contra doenças causadas pelo Haemophilus influenza tipo B, tais como pneumonia, otite, sinusite e meningite.
Atualmente, a vacina contra Haemophilus influenza tipo B é utilizada prioritariamente associada à vacina DPT(Tetra).
A vacina é composta pelo polissacarídeo capsular, conjugado a uma proteína. A administração da vacina é feita por via intramuscular e os eventos adversos mais freqüentes são dor, vermelhidão e enduração no local da injeção e febre, os quais podem ocorrer nas primeiras 48 horas.


Vacina contra a difteria e o tétano (dupla tipo adulto)

A vacina é indicada a partir dos sete anos de idade, para prevenção do tétano acidental e da difteria. É composta por associação dos toxóides diftérico e tetânico.


Vacinas contra poliomielite [inativada ou VIP (Salk) e atenuada ou VOP (Sabin)]

A VOP (Sabin) é a vacina recomendada pela OMS e pelo Ministério da Saúde do Brasil para uso de rotina e em campanhas ou bloqueios vacinais. É capaz de induzir forte imunidade intestinal, bloqueando a circulação do vírus selvagem da poliomielite ou de mutantes vacinais neurovirulentos. Foi com o uso dessa vacina que se eliminou a poliomielite das Américas.
A VOP pode apresentar maior risco de provocar poliomielite paralítica associada à vacina em indivíduos infectados pelo HIV. Entretanto, estima-se que nos últimos 20 anos mais de 500.000 crianças infectadas pelo HIV tenham recebido uma ou mais doses de VOP e, apesar disso, há relato de poliomielite paralítica associada à VOP em pouquíssimas crianças. Não há evidências de que o risco de poliomielite vacinal seja maior em infectados pelo HIV. Mesmo assim, indica-se a vacina inativada (VIP ou Salk) no lugar da vacina atenuada para filhos de mãe soropositivas ao HIV antes da definição diagnóstica e crianças com HIV/Aids. Esta indicação ocorre também porque crianças comunicantes domiciliares de adultos com imunodeficiência também devem receber a vacina inativada. Quando não disponível esta vacina, deve-se utilizar a VOP.
A vacina é aplicada a partir de dois meses de idade por via intramuscular. A VIP induz níveis adequados de anticorpos séricos, comparáveis aos induzidos pela VOP, em pessoas assintomáticas infectadas pelo HIV. Em pacientes com imunodeficiência congênita ou adquirida, graves, a resposta sorológica é menor e pode mesmo ser ausente.
Os eventos adversos associados à VIP podem ser divididos em locais (eritema discreto no local da aplicação) ou sistêmicos (febre baixa ou moderada). Anafilaxia é rara.


Vacina oral de rotavírus humano (VORH)

O rotavírus é um vírus da família Reoviridae que causa diarréia grave, freqüentemente acompanhada de febre e vômito. A introdução da vacina no calendário vacinal ocorreu em março de 2006, com esquema vacinal de 02 doses, aos 2 (no máximo, até 3m e 15 dias) e 4 meses de idade (no máximo, até 5 meses e 15 dias); a vacina não deve ser aplicada, fora das idades estabelecidas, por não haver estudos concluídos. É uma vacina oral, com vírus atenuados, monovalente.
Filhos de mães soropositivas ao HIV poderão ser vacinados, desde que não apresentem manifestações clínicas graves ou imunossupressão. Além disso, a vacina não está contra-indicada para lactentes que convivam com imunodeprimidos.
Em estudos iniciais, não se identificou que febre, diarréia ou vômitos estivessem associados com a vacinação. Entre os eventos adversos que devem ser observados e notificados estão a reação alérgica sistêmica grave (até duas horas da administração da vacina), a presença de sangue nas fezes (até 42 dias após a vacinação) e o quadro de abdome agudo obstrutivo (até 42 dias após a aplicação).


Vacina contra o sarampo, a caxumba e a rubéola (SCR – Tríplice Viral)

A vacina tríplice viral é uma combinação dos vírus vivos atenuados do sarampo, da caxumba e da rubéola. O esquema utilizado é de uma dose aos 12 meses de idade e uma 2ª dose dos 4 aos 6 anos de idade. A vacina é contra-indicada para pessoas gravemente imunocomprometidas pelas seguintes razões: 1) Um caso de pneumonite por sarampo ocorreu em um paciente com AIDS com imunodepressão grave que havia recebido a vacina; 2) Há evidência de resposta anticórpica diminuída à vacina entre pessoas infectadas pelo HIV gravemente imunocomprometidas; 3) Tem sido relatada morbidade relacionada a vacinação entre pessoas com imunodepressão grave.
Crianças infectadas pelo HIV devem receber a vacina rotineiramente aplicada aos 12 meses de idade; uma segunda dose deve ser administrada entre 4 e 6 anos de idade, desde que não estejam gravemente imunocomprometidas.
Dor no local da injeção, induração e edema são os principais eventos adversos relacionados à vacina.


Vacina contra hepatite B (HB)

O PNI (Programa Nacional de Imunização) recomenda a vacinação universal das crianças contra hepatite B a partir do nascimento. A aplicação da primeira dose nas primeiras 12 a 24 horas de vida resulta em alta eficácia na prevenção da infecção transmitida verticalmente. A vacinação de crianças confere imunidade prolongada. Usualmente não são recomendadas doses de reforço da vacina contra hepatite B. Além disso, recomenda-se também a vacinação de crianças e jovens que não tenham sido previamente vacinados até os 19 anos de idade. Alguns outros indivíduos suscetíveis e pertencentes a grupos de risco para aquisição da hepatite B deverão ser vacinados, independentemente da sua idade. Entre estes, se encontram pacientes HIV+ ou imunocomprometidos, comunicantes sexuais e intradomiciliares de portadores crônicos de hepatite B, profissionais do sexo, população carcerária, profissionais da saúde, hepatopatas crônicos e portadores de hepatite C, entre outros.
A co-infecção hepatite B / HIV é bastante comum. Para os indivíduos soropositivos ao HIV, devido à menor resposta imunológica, recomenda-se aplicar doses mais elevadas e em maior número de vezes que os esquemas habituais.
As vacinas contra hepatite B são constituídas por produtos que contém o antígeno de superfície do VHB (HBsAG) purificado, modernamente obtidos por engenharia genética. Devem ser administradas por via intramuscular, no deltóide.
A vacina produz eventos locais de pequena intensidade, tais como dor e enduração. As reações sistêmicas tais como febre são incomuns. Anafilaxia é rara.

Vacina contra hepatite A (HA)

A vacina inativada contra hepatite A é altamente eficaz e de baixa reatogenicidade, com taxas de soroconversão de 94 a 100%. A proteção é de longa duração após a aplicação de duas doses.
A infecção pelo vírus da hepatite A em pacientes com doença hepática crônica (DHC), viral ou não, pode levar a quadros de hepatite grave ou fulminante. Na situação de doença hepática crônica a vacina contra VHA deve ser administrada o mais precocemente possível.
Soroconversão após vacina contra hepatite A tem sido avaliada em pessoas com estado imunológico comprometido. Estudo em indivíduos HIV +, tratados com esquemas anti-retrovirais atuais observou resposta sorológica em 130 de 214 indivíduos vacinados e esta resposta se correlacionou apenas com o nível de células CD4, sendo nula quando este nível foi menor que 200 e mais intensa quando maior que 500/ mm3, sugerindo a necessidade de se aguardar reconstrução do sistema imunológico antes de vacinar.
Se isolada, tanto na apresentação adulta como infantil, a vacina contra hepatite A deve ser administrada em duas doses, de 0,5 mL, aplicadas com intervalo de 6 meses. Se combinada com vacina contra hepatite B, deve ser administrada em três doses, de 1,0 mL, aplicadas no esquema 0, 1 e 6 meses.
A via de administração é a intramuscular.
Os eventos adversos podem ser locais (dor, eritema ou edema) ou sistêmicos (febre e fadiga em menos de 5% dos vacinados). Anafilaxia é rara.


Vacina contra varicela (VZ)

A vacina contra varicela (VZ) é usada há mais de 20 anos no Japão e, mais recentemente, tem sido amplamente utilizada na Europa, nos EUA e no Brasil. A vacina contra varicela (VZ) pode ser aplicada a partir dos 12 meses de idade por via subcutânea.
A varicela é uma doença habitualmente benigna na infância. Crianças menores de um ano de idade, adultos, gestantes e imunodeprimidos, particularmente com imunodepressão celular, têm maior risco de desenvolver complicações. Os pacientes imunodeprimidos podem ter curso clínico e excreção viral prolongados.
A eficácia e a segurança da vacina contra varicela em crianças HIV/ Aids ainda não estão seguramente estabelecidas. Mesmo com dados limitados, o Ministério da Saúde do Brasil recomenda a vacinação de crianças infectadas pelo HIV e assintomáticas ou pouco sintomáticas (N1 e A1).
Devido à raridade da transmissão do vírus vacinal, a vacina contra varicela não é contra-indicada para pessoas que convivem com pacientes imunodeprimidos, inclusive HIV positivos e mulheres grávidas. Por cautela, os vacinados que desenvolvem exantema variceliforme pós-vacinação devem evitar o contato com pacientes imunodeprimidos e grávidas.
Entre os eventos adversos passíveis de observação estão os sintomas locais como dor, hiperestesia ou rubor podem ocorrer em torno de 20% dos vacinados nas primeiras horas após a aplicação. Erupção leve semelhante à varicela pode surgir no local da aplicação de 8 a 19 dias após a vacinação em torno de 3,5% dos vacinados. Febre pode ocorrer em torno de 15% dos vacinados, até 40 dias depois da vacinação. Erupção variceliforme, com 5 lesões, em média, pode ocorrer 5 a 26 dias após a vacinação. O exantema após a vacinação de imunodeprimidos é geralmente maculopapular e vesicular e pode, às vezes, assemelhar-se a uma forma leve de varicela. A maioria das lesões é maculopapular, mas, nos casos mais intensos, podem predominar as vesículas e o risco de transmissão é maior do que nos imunocompetentes. A evolução pode ser arrastada com duração de até dois meses. Anafilaxia é rara.


Vacina contra influenza, inativada (INF)

A vacina contra influenza diminui as hospitalizações e mortes por pneumonia em idosos e crianças pequenas. Hoje, a vacina contra influenza faz parte do calendário de rotina do PNI para pessoas com 60 anos ou mais em todo o território nacional. Nos CRIE, a vacina pode ser obtida para os grupos especiais de risco entre os quais se encontram os indivíduos soropositivos para o HIV.
A vacina é composta de vírus inativados e pode ser aplicada a partir dos seis meses de idade, por via intramuscular.
A vacina contra influenza induz a produção de anticorpos em títulos protetores nas pessoas HIV + com poucos sintomas de imunodeficiência e contagens adequadas de linfócitos CD4+. Entre as pessoas com HIV/Aids com doença avançada e contagens baixas de linfócitos CD4+, a vacina pode não induzir anticorpos protetores e uma segunda dose não melhora a resposta imunológica à vacina. Não foi verificada piora clínica entre os pacientes com HIV/Aids vacinados contra influenza, embora possa ocorrer, transitoriamente, aumento da carga viral e diminuição dos linfócitos CD4.
Entre os eventos adversos relatados pode ocorrer eritema, dor e enduração, de pequena intensidade no local da injeção; febre, mal-estar e mialgia são mais freqüentes em pessoas que não tiveram exposição anterior aos antígenos da vacina; reação anafilática é rara.


Vacinas contra Pneumococo
VACINA POLISSACARÍDICA 23 VALENTE (Vacina contra pneumococo, Pn23)
VACINA CONJUGADA 7 VALENTE (Vacina contra pneumococo conjugada, Pnc7)

A vacina utilizada atualmente tem 23 sorotipos (Pn23) que são os mais freqüentemente isolados de doenças invasivas. Esta vacina protege contra bacteremia, porém é menos eficaz na prevenção de outros tipos de infecção pneumocócica. Em virtude destas limitações, a vacina contra pneumococo polissacarídica não conjugada é utilizada apenas como imunobiológico especial, para determinados grupos de pacientes que apresentam suscetibilidade aumentada à infecção pneumocócica. Dispõe-se atualmente de uma vacina conjugada 7 valente contra pneumococo (Pnc7); esta é uma vacina de alta imunogenicidade, o que possibilitou sua utilização em crianças a partir dos 2 meses de idade, faixa etária onde a morbimortalidade da doença pneumocócica é muito elevada. Nos CRIEs, pode ser utilizada em crianças até cinco anos de idade por via IM.
Alguns grupos populacionais são especialmente suscetíveis a doença invasiva pelo pneumococo, entre os quais estão os indivíduos infectados pelo HIV. Eles podem ser contemplados nos CRIE com os dois tipos de vacinas contra pneumococo. Até os dois anos de idade, utiliza-se somente a vacina Pnc7. Para crianças com idade entre dois e cinco anos, a escolha do tipo de vacina deverá obedecer ao disposto na figura 1.



A resposta sorológica adequada após esquema completo da Pnc7 tem sido observada em crianças com HIV/aids, doença de Hodgkin e anemia falciforme. Contudo, como não há definição do nível sérico protetor contra o pneumococo, fica difícil a interpretação dos resultados.
Entre os eventos adversos descritos, destacam-se os locais (eritema, enduração e dor leve) e os sistêmicos (febre baixa, astenia, cefaléia e mialgia com a Pnc23 e irritabilidade, sonolência e choro excessivo com Pnc7). Anafilaxia é rara.


Vacina contra meningococo conjugada - C (Mnc C)

A vacina conjugada contra meningococo C produz proteção de longa duração e pode ser aplicada a lactentes jovens, tal como outras vacinas conjugadas. No Brasil, a vacina conjugada contra meningococo C tem sido utilizada nos CRIE para subgrupos especiais desde 2003, entre ao quais se encontram as crianças menores que 13 anos infectadas pelo HIV.
A vacina é contra os meningococos do tipo A e C. Deve ser aplicada a partir dos 2 meses de idade, por via IM.
Eventos adversos locais (eritema, enduração e dor) ou sistêmicos (febre baixa e irritabilidade) podem ser observados. Anafilaxia é rara.


Conclusão

A tarefa de imunizar os portadores do vírus HIV é bastante árdua, pois estes indivíduos, habitualmente, já recebem uma série de medicamentos, necessitam coletar exames de sangue com freqüência regular e passam em consultas com diversos profissionais da área da saúde, várias vezes ao ano. Por outro lado, para estes indivíduos, diversas são as oportunidades de encaminhá-los às “atividades preventivas”, entre as quais se encontram a adequada aplicação de vacinas. Cabe, pois, aos profissionais que atuam na promoção à saúde dos pacientes infectados pelo HIV a tarefa de definir quais imunobiológicos estão indicados para os pacientes, seguindo recomendações existentes dos órgãos governamentais, considerando o estado imune de cada paciente e o risco existente em cada exposição aos microorganismos. Cabe ainda, aos serviços, a tarefa de divulgar e difundir a necessidade de vacinação aos seus usuários, o monitoramento dos efeitos adversos nestas populações e a convocação dos faltosos, para que completem seus esquemas adequadamente. É importante salientar que a carga viral plasmática não deve ser verificada antes de quatro semanas após a imunização, pois a resultado daquela pode ser transitoriamente alterado pela administração do imunobiológico.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

A) Norma do Programa de Imunização. Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof Alexandre Vranjac". Comissão permanente de assessoramento de imunizações. Secretaria do Estado da Saúde. São Paulo, 1998.
B) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Programa Nacional de Imunizações. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
C) Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para Vacinação em Pessoas Infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 18 p.
D) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Vigilância dos Eventos Adversos Pós-Vacinação: Cartilha para Trabalhadores de Sala de Vacinação. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.
E) Caminada S., Monteiro A.L.C., Bredt C.S.O. Vacinação em Pacientes Infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV). Boletim Epidemiológico do CRT DST/AIDS, ano XVIII, número 1. São Paulo: Secretaria Estadual da Saúde S.P., 2000.
F) Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Informe técnico Vacina contra Hepatite B. São Paulo: Secretaria Estadual da Saúde S.P., 2006.
G) Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Informe técnico Vacina contra Rotavírus. São Paulo: Secretaria Estadual da Saúde S.P., 2006.
H) Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Manual de Normas de Vacinação. Brasília, 2001.
I) Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Manual de Procedimentos para Vacinação. Brasília, 2001
J) Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações. Norma do Programa de Imunização. São Paulo: Secretaria Estadual da Saúde S.P., 1998.


Sala de vacinas do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRT DST/Aids) - Dados até 30/06/2006

A sala de vacinas, que atende aos usuários e funcionários do CRT DST/ Aids, registrou um total de 13.955 indivíduos que iniciaram algum esquema vacinal no período de 1999 a abril de 2006. A maioria dos encaminhamentos foi realizada pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), representado por 47,5% dos indivíduos, 21,9% procederam-se do Ambulatório de HIV/Aids e 18% do Ambulatório de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Outros atendimentos foram funcionários, profissionais que sofreram acidentes com material biológico, entre outros (Tabela 1).
Dentre os imunobiológicos administrados, a vacina contra Hepatite B correspondeu a 44,7% do total nesse período, com 11.631 doses aplicadas, seguida da vacina anti-influenza que totalizou 24,8% do total, tendo sido aplicadas 6.414 doses e 16,2% foi representado pela vacina Dupla adulto com um total de 4.214 doses aplicadas no mesmo período (Tabela 2).
Com base nas análises dos boletins de anos anteriores do Serviço, tem-se observado que a cobertura vacinal, principalmente contra hepatite B, tem permanecido aquém do esperado de usuários dos diversos ambulatórios do CRT (HIV/ AIDS, CTA e DST). Portanto, é imprescindível que o trabalho educativo de divulgação quanto à importância das vacinas e calendário vacinal, normas do PNI junto aos profissionais de saúde e usuários, sejam intensificados.




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